segunda-feira, 15 de maio de 2017

AS SENHORAS DA PLENITUDE - PARTE III

O culto de Bau data de 2500 a.C. e é semelhante ao da deusa sumeriana Gula, ambas sendo regentes da fertilidade, abundância e cura, mães divinas doadoras da vida, parteiras, rainhas da colheita e protetoras das almas na sua passagem entre os mundos. Acreditava-se que os espíritos das crianças ficavam escondidos nas pregas das Suas saias à espera da reencarnação. Seu símbolo era uma taça medidora chamada Bar, cujo hieróglifo X era equivalente à runa nórdica da doação e troca. Nos nascimentos das crianças as parteiras ou avós faziam oferendas de pão e vinho, pois nos mitos existiam advertências para aquelas mulheres que não reverenciavam ou agradeciam à Grande Mãe, privando assim seus filhos das bênçãos divinas.

Assim como as deusas sumérias, Boldog Asszony era celebrada como A Mulher Abençoada, A Mãe plena, Rainha alegre da colheita ou Senhora da foice (usada antigamente pelas mulheres nas colheitas de cereais). Em uma dança folclórica húngara, contemporânea, encena-se a reverência à Maria (a herdeira cristã da Deusa) com uma roda de mulheres, com saias coloridas e tiaras bordadas, que pedem cantando à Mulher Abençoada (personificada por uma mãe humana no centro da roda) visitar e abençoar suas casas, famílias, lavouras e bens.

Infelizmente, as proibições religiosas do regime comunista na Hungria, continuando a perseguição secular da igreja católica, suprimiram muitas das tradições antigas remanescentes no meio rural. Após a cristianização forçada no século 12, a língua original – de origem asiática (ramo ugro-fínico) – foi europeizada, perdendo-se assim antigos significados de palavras associadas aos ritos agrários. O atual povo húngaro originou-se da mescla de tribos citas, hunos, persas e magiares vindos das estepes da Ásia central. A religião pagã original era monoteísta, centrada em uma divindade incriada, etérica, sem forma, sexo ou nome, cercada por seres divinos. Reverenciavam-se as forças da natureza, o céu e a Mãe Terra, as deusas mais cultuadas sendo a Grande Mãe - Nagy Asszony - e sua filha Boldog Asszony, (“Senhora da plenitude e alegria”), a Velha Mulher Lua e o casal solar.

Inspirados pela riqueza mítica das antigas deusas nós podemos criar um singelo ritual atual de gratidão, oferecendo à Mãe Divina o tradicional pão e vinho, junto com símbolos da nossa “colheita”. Após fazer uma autoavaliação das realizações dos meses anteriores, agradeceremos os “frutos” colhidos, refletiremos sobre as medidas necessárias para limpar nossos “plantios”, deles retirando as ervas daninhas, os insetos invasores e animais predadores. Depois, iremos assumir o compromisso de cuidar e proteger os brotos tênues dos nossos sonhos e aspirações, nutrindo-os com a energia da perseverança, confiança e fé, nos sentindo guiados pelas Mães do plantio e da colheita e abençoados pelas Senhoras ancestrais da plenitude.

Texto Mirella Faur

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