sábado, 31 de maio de 2014

JUNHO

Junho e sua Magia


                Originalmente, o nome deste mês era Junonius, em homenagem a Juno, a deusa romana padroeira dos casamentos e das mulheres.  Equivalente à deusa grega Hera, Juno era invocada nos casamentos para garantir a felicidade duradoura por seu aspecto de padroeira e protetora das funções e atributos femininos. Por isso, antigamente, as mulheres procuravam casar neste mês, tradição mudada pela Igreja Católica para o mês de Maio.
                Como governante da estação mais clara e quente do ano, Juno era a contraparte luminosa de Janus, o regente do mês de Janeiro.
                No hemisfério norte, durante este mês, percebia-se um acréscimo de energia psíquica, favorecendo a aproximação e o intercambio com os seres elementais e os espíritos da natureza, que podiam se tornar acessíveis e visíveis desde que devidamente agradados e invocados.
                Os nomes antigos deste mês eram Meitheamh para os irlandeses, Aerra Litha para os anglo saxões e Brachmonath para os nórdicos. No calendário sagrado druídico, a letra Ogham correspondente é Tinne e a planta sagrada é o azevinho. O lema do mês é “energia e poder de decisão para enfrentar os problemas e obstáculos”. As pedras sagradas deste mês são a ágata, a pedra da lua, a alexandrita e a perola. As deusas regentes são Juno, Carna, Cardea, Danu, Vesta, Anahita, Epona, Cerridwen e Kupalo.
                Os povos nativos chamam este mês de Lua dos Amantes, Lua do Mel, Lua dos Morangos, Lua da Rosa, Lua dos Padros, Lua do Sol Forte, Lua dos Cavalos, Lua da Engorda e Mês do Intervalo, entre outros.
                No calendário rúnico, este mês é regido pela uma Dagaz, que representa a “porta do ano”, o portal para os mundos internos internos, a abertura que permite a entrada daquilo que é benéfico e obstrui a entrada das coisas ruins. Por isso, Junho era considerado a porta do ano, abrindo os canais para o sol entrar, fortalecendo as energias e consolidando os ganhos.
                Neste mês no hemisfério norte celebra-se o Solstício de Verão, enquanto no hemisfério sul é celebrado o Solstício de Inverno. Nos países eslavos, o nome dos festivais variava: kupalo, Jarilo, Kostroma, Sabotka, Kreonice ou Vajano.
                No Egito, durante a lua cheia, homenageava-se a deusa Hathor com o festival de Edfu. A procissão com a estatua da deusa, retirada de seu templo em Dendera durante  a lua nova, culminava com sua chegada no templo de Hórus, em Edfu, para o casamento sagrado destas divindades. Durante as faustosas celebrações, muitos casais aproveitavam os influxos auspiciosos do evento para imitar o exemplo dos deuses e se casar. A deusa lunar Hathor regia o amor, a beleza, a união e a fertilidade e, casar-se durante sua celebração na lua cheia, garantiria suas bênçãos para o casal.
                Também no Egito, celebravam-se as deusas Ísis e Neith com o Festival das  Lanternas, enquanto que na Índia, um festival exclusivo de mulheres homenageavam-se a deusa Parvati.
                Na Grécia antiga, durante a lua nova, celebra-se Ártemis -  a deusa lunar padroeira das florestas e animais - , as Horas – deusas menores das estações – e as Dríades – as ninfas das árvores. Em Roma, comemoravam-se as deusas Carna – da saúde - , Cardea – a protetora das casas – e Juno e Vênus – as padroeiras das mulheres e do amor.
                Os povos nativos norte-americanos festejam, neste mês, o retorno Kachinas, os espíritos ancestrais da natureza para sua morada subterrânea, após terem proporcionado o crescimento da vegetação. Os Incas celebravam Inti Raymi, a grande Festa do Sol e a gratidão pela colheita do milho.
                A cerimonia romana dos Luci Piscatari, ou festival dos pescadores, era na verdade uma bênção às embarcações. Eles acreditavam que cada embarcação possuía sua própria entidade espiritual; o ritual das bênçãos dos barcos harmonizava as energias contidas nas embarcações, tornando-as ativas, de fácil manuseio e resistentes.


CORRESPONDÊNCIAS

·         ESPÍRITOS DA NATUREZA: silfos, zéfiros
·         ERVAS E FLORES: lavanda, orquídea, mileofólio, verbena, tanásia, salsinha, rosa e musgos
·         ÁRVORES: carvalho
·         CORES: laranja, verde, branco
·         ESSÊNCIAS: lírio, lavanda
·         PEDRAS: topázio, ágata, alexandrita, fluorita, pedra da lua e pérola
·         ANIMAIS: macaco, borboleta, sapo, rã, corruíra, pavão
·         DEIDADES: Juno, Hera, Aine de Knockaine, Ísis, Neith, O Homem Verde, Cerridwen, Bendis, Ishtar, Dríades, Horas

FONTES: O Anuário da Grande Mãe
                  O Livro Mágico da Lua

                O Livro Wiccaniano do dia-a-dia

domingo, 25 de maio de 2014

A LUA AO LONGO DO AO

A DANÇA DA LUA AO LONGO DO ANO



Desde a antiguidade a Lua exerceu um profundo fascínio sobre a mente e a imaginação humanas e tornou-se o principal assunto de inúmeros mitos, lendas, poemas, canções e obras de arte. Considerada por várias tradições e culturas como o símbolo celeste do princípio feminino, a Lua era a própria Mãe Divina, invocada em cultos e rituais para promover a fertilidade e assegurar o crescimento e a nutrição vegetal, animal e humana.
Apesar de a Lua ser comumente considerada um mero satélite da Terra, a relação Lua-Terra funciona como um sistema planetário binário, no qual a Lua, do ponto de vista esotérico, exerce um duplo papel. Enquanto uma face está voltada para o Sol - desta forma conduzindo a luz espiritual, a outra é atraída pela Terra, pela sua dimensão física e material, sendo assim um símbolo do dilema e do desafio do ser humano em se equilibrar entre o espírito e a matéria. A Lua desempenha, portanto, seu papel de mediadora reagindo às energias do Sol e da Terra e ocasionando entre nós os ciclos de transformações naturais, biológicas e humanas.

O padrão rítmico da Lua foi o modelo primordial dos calendários em uso pelos povos primitivos e era relacionado ao ciclo menstrual da mulher e ao movimento das marés. Um dos primeiros calendários astrológicos conhecidos foi criado pelos babilônios, baseado no ciclo das lunações e chamado “As casas da Lua”, sendo o zodíaco considerado o cinturão da Deusa Ishtar. Em inúmeras tradições e mitos são enumeradas e descritas as fases lunares como personificações da Deusa lunar, em seu aspecto de Donzela (lua crescente), Mãe (lua cheia) e Anciã (lua minguante). A própria criação do Universo foi atribuída pelos gregos à dança da deusa Eurynome, cujos movimentos separaram a luz da escuridão, e o mar, do céu.
O padrão energético lunar é o primeiro a ser absorvido pelo filho na hora do nascimento, sendo depois ativado pelo contato com a mãe física e pelas condições do mundo exterior. A partir do primeiro alento, a influência da Lua natal irá permear todas as experiências da vida da pessoa, definindo a estruturação e o desenvolvimento da personalidade.
Enquanto o Sol astrológico representa a individualidade, a Lua revela a personalidade - a máscara social - e a maneira de responder às experiências e aos estímulos externos. O processo de autoconhecimento inclui explorar as profundezas da Lua (da personalidade) para encontrar a luz do Sol (a individualidade central). Quando o Sol e a Lua estão em equilíbrio, a combinação das suas energias permite a integração das frações divididas da psique, estabelecendo uma união harmônica das polaridades.
A Lua atua como um receptor seletivo das impressões do mundo exterior, colocando em evidência e selecionando aquelas às quais vamos responder conscientemente. Observamos a influência da Lua na mutabilidade das nossas reações às vivências cotidianas, pois ela nos protege e guia, ativando ou modificando nossos padrões habituais de comportamento. Pela posição da Lua no mapa natal identificam-se os padrões emocionais, o tipo e a qualidade dos relacionamentos, a maneira de responder às necessidades próprias e as dos outros, bem como a expressão ou o bloqueio de talentos naturais como intuição, inspiração e criatividade.

O elemento do signo astrológico em que a Lua estiver situada no mapa natal indica a capacidade de autonutrição, os padrões costumeiros da reação instintiva e o tipo de energia necessária para a adaptação às situações e aos ambientes. A maioria das pessoas conhece seu signo solar, ou seja, aquele signo do Zodíaco em que o Sol estava “passando” na data do seu nascimento. No entanto, muitos poucos sabem qual é o seu signo lunar, importante dado astrológico, principalmente para as mulheres, cuja energia e ciclos fluem em função dos ritmos lunares.
A mulher que conhece seu signo lunar e que acompanha o movimento da Lua através de seus signos e fases poderá perceber não apenas suas flutuações de humor e seus ciclos biológicos, mas também o aumento de sua percepção psíquica e o aguçamento de sua sensibilidade. Ela poderá assim tirar proveito destas características, ou ao contrário, proteger sua vulnerabilidade.
Enquanto o Sol gasta um ano para percorrer a Roda do Zodíaco, a Lua a percorre em um mês, permanecendo em cada signo aproximadamente dois dias e meio. A passagem da Lua pelo signo solar individual reforça as características do nativo, aumentando assim o seu poder pessoal. Pedidos, orações, rituais, afirmações e encantamentos, feitos no dia em que a Lua está no signo solar natal, serão potencializados e sua realização será facilitada.
A Lua nos signos de fogo propicia uma resposta rápida, entusiasta e uma visão otimista perante a vida, podendo fluir com as mudanças, sem se apegar aos esquemas e à rotina. O desafio é representado pela impaciência, as ações impulsivas e precipitadas, as atitudes egocêntricas e hedonistas.
A Lua nos signos de terra incentiva a busca da segurança e da estabilidade, do enraizamento e da praticidade. Atitudes, convicções e valores dependem das percepções sensoriais e do contato com o mundo tangível. Deve ser avaliada e vencida a insegurança em relação aos sentimentos, às emoções e à aceitação social e pessoal. Pode ser percebida uma resistência às mudanças e a permanente preocupação com a realização profissional.
A Lua em signos de ar intelectualiza os sentimentos e as emoções, colocando em primeiro plano o intelecto e reprimindo ou negligenciando os sentimentos. É necessário incentivar a expressão e a comunicação, tanto mental quanto emocional, para conseguir evitar uma dicotomia e um conseqüente desequilíbrio interior.

A Lua nos signos de água enfatiza a necessidade de vivenciar e lidar com emoções e sentimentos, procurando evitar a vulnerabilidade afetiva e a hipersensibilidade. A vida é percebida por um filtro emocional, fato que exacerba a empatia e dificulta a adaptação às mudanças.
Existem outros pontos lunares “de poder” ao longo do ano. Anualmente, cada pessoa terá uma lua cheia e uma lua nova no seu signo solar. A lua nova representa um convite para a introspecção, contemplação e alinhamento espiritual. Como acontece geralmente próximo ao aniversário, esta fase pode ser usada como uma preparação para o seu retorno solar (o novo ciclo que se estende de um aniversário até o próximo).
Já a lua cheia convida para uma celebração e colheita das realizações e conquistas, bem como uma oportunidade de direcionar a criatividade ampliada para novas metas. Como a Lua passa por todas as suas fases em todos os signos zodiacais, é importante também saber quando acontecerão a lua crescente e a minguante no seu signo solar.
A lua crescente é propícia para iniciar um projeto, mudança ou viagem, enquanto a minguante representa um momento de reflexão e avaliação das experiências e dos aprendizados, favorecendo o desapego ritualístico das perdas, decepções, mágoas e dores.



Texto Mirella Faur

domingo, 18 de maio de 2014

As Moiras, fiandeiras do destino

As Moiras, fiandeiras do destino


O arquétipo do destino é profundamente enraizado na psique dos povos de origem indo-europeia. Começando na Índia, atravessando o continente europeu indo até o Mar do Norte e as Ilhas Britânicas e abrangendo a bacia do Mediterrâneo, as antigas culturas destas áreas possuíam mitos, histórias, símbolos e cerimônias para honrar e invocar as forças do destino. Alguns destes mitos se sobrepõem, outros são divergentes, mas o conceito fundamental é o mesmo: as “Senhoras do Destino” são forças universais e naturais, que não obedecem aos deuses ou deusas, pois elas representam os ritmos e as marés das energias cósmicas e telúricas, tendo aparecido no início dos tempos e permanecendo até o fim das eras.
A origem e o nascimento das Moiras são cercados por mistérios, sabe-se que elas exercem suas funções desde a origem de tudo, sendo tão antigas e insondáveis quanto a noite, o céu e a Terra. Imutáveis nos seus desígnios, elas controlam o fio misterioso da vida e nada consegue aplacar ou impedir que elas modelem ou cortem sua trama. Inicialmente eram consideradas como uma dupla, a regente do nascimento e a regente da morte, mas depois apareceram como Klothes, as Fiandeiras, em número de três ou nove (três vezes três), reunindo em si o antigo significado da palavra Moira, “forte, difícil de suportar e destruidora”, sendo Moira Krateia segundo Homero.
Suas equivalentes são as Parcas ou Fata (plural de Fatum, a vontade divina) romanas, as Rodjenitse eslavas ou as Nornes nórdicas. Descritas como filhas de Nyx (a Noite) e Kronos (o tempo), de Gaia e Oceano ou Júpiter e Têmis nos mitos olímpicos mais recentes, a sua origem mais arcaica as retratava como filhas de Ananke (a necessidade) e do destino, irmãs das Horas, Erinias (as Fúrias), Tanatos (morte), Hipnos (sono) e de Nêmesis, a vingança. Elas viviam em um lugar longínquo nos confins do mundo, numa caverna perto de um lago, cuja água branca era o reflexo da Lua. O nome delas simbolizava “parte, porção, aspecto” e o seu número correspondia às três fases da Lua, tendo sido descritas por Orfeu como as “Moiras de vestes
brancas”.
As Moiras são as fiandeiras que fiam os dias da nossa vida, um dos quais se torna, inevitavelmente, o dia da nossa morte. O comprimento do fio que elas atribuem a qualquer mortal é decidido exclusivamente por elas, pois nem mesmo Zeus - considerado seu pai ou
dirigente nos mitos mais recentes e nomeado Zeus Moiragetes - podia influir a decisão delas
para favorecer algum mortal por ele protegido.
O poder das Moiras era anterior ao domínio de Zeus e aos arquétipos das divindades olímpicas.
No nascimento de uma criança elas apareciam na sétima noite, determinavam o curso da sua vida, fiavam o seu destino e direcionavam as consequências das suas ações de acordo
com as decisões tomadas. A sua aparição na sétima noite deu origem ao costume grego de esperar sete dias para aceitar o recém nascido na família, dando-lhe um nome e fazendo sua consagração na frente da lareira. Como deusas do nascimento (conhecidas como Fata Scribendi, que escreviam o destino) eram acompanhadas pela deusa Eileithia e previam o futuro das crianças por conhecerem os desígnios futuros, que às vezes revelavam com seus
poderes proféticos, sendo padroeiras das videntes e sacerdotisas oraculares. Elas não interferiam nos afazeres humanos e condicionavam a sorte de tal maneira, que permanecia uma pequena margem para as ações e escolhas dependendo do livre arbítrio.
Quando se apresentavam na hora da morte, elas se transformavam nas Moirai  hanatoio, as deusas da morte, acompanhadas pelas Keres e as Erínias. As Keres eram espíritos ancestrais femininos, com dentes afiados e vestes vermelhas, regentes da morte,  onipresentes, dotadas do poder sobre a vida e a morte, porém obedecendo aos deuses, principalmente a Nêmesis e Ares. As Moiras transferiam para as Erínias as punições para os atos destrutivos e as maldades cometidas e, junto com elas, direcionavam os eventos na vida com as necessárias lições, aprendizados e correções.
Às vezes as Moiras eram descritas como mulheres idosas, feias, mancas (para mostrar a lenta passagem do tempo), com semblante sério, rígido, impiedoso e severo, vestidas com túnicas pretas, com capuzes ou usando guirlandas de flocos de lã entremeadas de narcisos. Outras vezes apareciam coroadas, raramente veladas, segurando cetros e com os cabelos presos por faixas. Na sua apresentação mais comum, seus nomes, trajes e objetos são diferenciados.
Cloto, “a fiandeira”, segurava o fuso com qual fiava o destino dos seres humanos. Era representada como uma mulher madura, vestida com uma roupa colorida e usando uma coroa de sete estrelas, ficando ao lado de uma roca que se estendia do céu à terra, de onde puxava o fio para o seu fuso. Sua equivalente romana era Nona, invocada antigamente no nono mês de gravidez e que aparecia segurando um pergaminho em suas mãos.
Láquesis, “a que tirava a sorte (ou jogava os dados)” media o tamanho do fio destinado a cada ser humano. Suas vestes eram salpicadas de estrelas e às vezes segurava um bastão com qual apontava para o mapa natal em um imenso globo terrestre. A equivalente romana de Láquesis era Décima.
Atropos, “a inflexível”, escolhia a maneira da morte quando o prazo de vida findava e era ela que cortava impiedosamente o fio da existência de cada ser. Era a mais idosa, vestida com roupas pretas e segurando uma tesoura, alfanje, balança ou relógio solar. Sua equivalente romana era Morta.

As Moiras tinham santuários em vários lugares na Grécia: Corinto, Sparta, Olímpia, Teba; elas eram honradas com oferendas de flores, frutas, mel, especiarias, vinho e comidas típicas. As suas cores eram usadas nos bordados tradicionais dos trajes folclóricos gregos, o vermelho representando a cor do sangue, o branco a morte e o preto sendo a própria vida.
As Moiras não agem em linha reta, em cada momento da nossa vida devemos lidar com os efeitos dos atos anteriores, enfrentando os desafios presentes e nos preparando para aquilo que está à nossa espera no desconhecido futuro. Interagimos com elas em um ciclo
espiralado, em que repetimos as mesmas lições de maneiras diferentes, pois o passado é criado pelos nossos atos no aqui e agora e que se transformam nas possibilidades futuras. Elas não agem ao acaso, pois uma vez entrados no caldeirão da vida, somos sujeitos às leis naturais, enfrentando decisões e mudanças, cujas datas são em função de ciclos biológicos e planetários, principalmente os ligados a Saturno.

O primeiro ciclo de Saturno - que abrange o período do nosso nascimento até 28-29 anos - pertence a Cloto; nele aprendemos sobre o nosso potencial, bem como descobrimos nossas limitações – genéticas, sociais ou ambientais - tendo que lidar com elas e aceitar a nossa herança racial, familiar e cultural.
No segundo ciclo regido por Laquesis, nos tornamos nós mesmos e assim sabemos quem realmente somos e o que podemos fazer. Ao longo deste ciclo consolidamos nossa carreira, definimos os relacionamentos afetivos e familiares e descobrimos a nossa missão.
O terceiro ciclo pertence a Atropos e começa com o segundo retorno de Saturno em torno de 56 anos, quando ele abre as portas para novas possibilidades, “aquilo que poderá vir a ser”. Gradativamente, podemos romper com as amarras criadas no segundo ciclo e dar à luz a um novo ser, que foi amadurecendo dentro de nós. Este é um momento de avaliar tudo o que devíamos – ou não – fazer e às vezes podemos dar reviravoltas inesperadas.
Ao longo da vida a experiência nos ensinou como lidar com as mudanças, mas podemos ser melhor sucedidos se reconhecermos os pontos de mutação em que as Moiras mais nos tocam. Estas épocas dependem dos trânsitos planetários e dos seus aspectos em relação ao nosso mapa natal. A dança das Moiras é complexa, com pequenas voltas inseridas em círculos maiores. Os ciclos dos planetas pessoais - Sol, Lua, Mercúrio, Marte e Vênus- esculpem o nosso caráter e a lenta rotação de Saturno marca os três ciclos importantes das nossas vidas. Porém, são os planetas trans-pessoais que influenciam a orientação psíquica, social e espiritual das gerações, trazendo à tona aqueles assuntos necessários à evolução individual e coletiva.
Quando a alma escolhe sua vida ela se apresenta perante Láquesis que lhe envia o daimon (o anjo de guarda ou protetor vitalício), depois irá para Cloto ratificar a escolha feita e Atropos selar o destino de forma irreversível. No domínio de Láquesis existem ao nosso alcance todas as possibilidades, mas uma vez retirada aquela que queremos e desejamos, Cloto confirmará o destino escolhido e Atropos tornará a opção irreversível, tecendo a vida em função dela. A alma passa em seguida pelo trono de Ananke, a Necessidade, e mergulha no “rio do esquecimento”, que apaga as memórias das vidas anteriores e das próprias opções. Em seguida os ventos nos levam ao útero da nossa mãe junto com nosso daimon, o anjo de guarda, que irá nos proteger e ajudar a alcançarmos nossos objetivos, nos alertando sobre
perigos ou oportunidades e nos conectando com o fluxo da vida para haurir energia, poder e sabedoria. Depois que a alma é unida a um corpo, poderá realizar tudo que foi por ela escolhido, usando os dons e habilidades doadas pelas Moiras e que serão desenvolvidas com a
ajuda do anjo protetor, que acompanhará o seu afilhado durante sua vida, levando-o de volta no final.
A alma é responsável parcialmente pelas escolhas feitas, por depender também do traçado estabelecido e tecido pelas Moiras, que atuam como nossas parceiras para definir a tessitura da vida. Os atributos físicos e psíquicos são herdados dos pais que escolhemos e
firmados pelas Moiras, que nos colocam em situações em que teremos a chance de manifestar nosso propósito de vida e a missão que irá favorecer o crescimento e a evolução da alma. O propósito será realizado quando escolhermos uma vida que apoie a nossa missão e beneficie objetivos compatíveis com o processo evolutivo.
                Ao longo da nossa vida podemos sentir o desejo de lembrar o que realmente viemos fazer, sofrendo com o esquecimento, as dúvidas e o vazio da nossa existência. Mas orações para as Moiras, práticas espirituais e rituais podem amenizar a solidão da alma, devolver e fortalecer a conexão com o plano divino.
Podemos invocar as Moiras e pedir-lhes que clareiem os nossos caminhos, nos ajudando a descartar o fardo de mágoas, ressentimentos, raiva, culpa, remorsos e erros do passado e que nos libertem daquilo que não nos seja mais útil. Depois iremos pedir-lhes que abram a nossa compreensão e discernimento para agirmos da melhor forma nas nossas opções e decisões, alinhando nossa vida com a nossa missão e abrindo as portas para realizar – de fato - os verdadeiros propósitos da alma na atual encarnação.




Texto Mirella Faur