domingo, 23 de novembro de 2014



Sem vida não há água

“Celebremos a chuva que cai!
Celebremos as árvores verdes que brotam do chão!”

Que não há vida sem água, isso você já sabe. Afinal mais de 70% de nossos corpos é formado por água. Essa água que rege nossas emoções, essa água capaz de purificar nosso corpo e nossa alma. Essa água que circula e conecta todos os seres em seu ciclo contínuo de transformação, do céu cai em mágica chuva que umedece o solo e mata a sede de plantas e bichos para então retornar evaporada ao céu e assim por diante. Acontece que, não somente não há vida sem água, como não há água sem vida! Se não houvesse vida, a água já teria desaparecido. Sendo o hidrogênio um átomo levíssimo, teria escapado para o espaço se o oxigênio produzido pelas plantas na fotossíntese não o tivesse retido na forma de água antes que isso ocorresse ou se certos microorganismos não o captassem para fazer sulfeto de hidrogênio*. Há quem diga que foi exatamente isso que aconteceu em Marte ou Vênus. E é na vida que a água fica segura, estável.
Quando uma floresta é derrubada, quando a mata é queimada, a água que ali estava se vai porque são os seres vivos que evapotranspiram permitindo a formação das nuvens que de novo cairão em forma de chuva reiniciando o ciclo todo. Várias regiões hoje áridas de Mãe Terra já foram um dia frondosas florestas! no Oriente Médio havia florestas! No México Central havia florestas! No Norte da África havia frondosa floresta! Quando a floresta
se vai... a água se vai... É na matéria orgânica que podemos cultivar a água: nessa matéria orgânica, nesse mundo de folhas e galhos, que insistimos em varrer, em queimar;. em todos os lugares, no campo e nas cidades para deixar tudo limpinho;. porque achamos feio, achamos sujo o solo coberto de serrapilheira. Mas são justamente essas folhas e galhos que tornam o solo poroso como uma esponja, é aí que se encontra a água que expulsamos do nosso lugar... essa água da qual deveríamos cuidar com tanta responsabilidade...
            Masaru Emoto nos mostrou, com seus experimentos, que lindos cristais se formam com bons pensamentos. Portanto, vamos cuidar das águas que existem dentro de nós com bons pensamentos e sentimentos e vamos cuidar das águas fora de nós (mas que em algum momento certamente voltarão para dentro de nós) mantendo a vida abundante em nosso quintal, em nosso planeta.


* James Lovelock, em Gaia, cura para um planeta doente.

sábado, 15 de novembro de 2014

2015, o que virá com ele?

O QUE ESPERAR DE 2015?

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."

Carlos Drummond de Andrade



E a mágica se repete ano a ano, começa a se aproximar a virada do ano e vamos renovando nossas esperanças, nossos sonhos e ideais, somos, assim, tomados por aquela luz interna chamada fé, aquela chama quase apagada pelas dificuldades do ano regente de repente revigora, iluminando e aquecendo nossos corações e mentes!
O novo ano vem se aproximando e começamos a nos questionar sobre quais as regências do ano vindouro, suas influências, qual melhor forma de recebê-lo, de nos conectarmos com essa nova energia... E lá estamos nós, tal quais nossos ancestrais, preocupados em agradar e não ofender as divindades (ou como escolhermos chamar nos dias atuais), essa memória ancestral (nossas fés e práticas) ficaram tatuadas em nossa alma e mesmo após séculos de perseguições e marginalização continuam fortes e vivas dentro de nós, claro que com a mudança de nossa percepção sofreram algumas mudanças, mas a essência permanece lá em um cantinho de nossa alma.
2014 foi um ano onde tudo pareceu intensificado, tudo ganhou maiores proporções: nossas dores, amores, medos, indignações, inquietações ... agora o ano vem chegando ao seu fim e começamos a nos questionar se o próximo será igual, passamos a desejar de forma mais forte que o próximo ciclo seja mais suave, mais colorido e alegre; mas o que realmente esperar de 2015?
Um ano regido por Marte traz consigo toda a força e coragem deste planeta, mas também traz toda sua energia de combatividade e agressividade, enfim estaremos mais “tensos” devido a influência deste planeta e veremos isso de forma muito clara no cenário político. Teremos um ano mais quente, com maior probabilidade de secas e incêndios, mas não será um ano marcado apenas por acontecimentos negativos, Marte  nos trará muita energia para o crescimento pessoal, para a concretização dos objetivos e quem souber se conectar de forma positiva com a energia marciana, com certeza terá um grande ano: próspero e feliz! Será um ano em que as palavras de ordem deverão ser automotivação e autoafirmação, um ano para eliminarmos nossas dependências financeiras e emocionais, buscando assim nossa verdadeira independência.

A numerologia nos mostra um ano com a regência do número 8, um número que traz muito forte consigo aquela lei de “causa e efeito”, por isso este ano nos pedirá muita responsabilidade para nossos atos e pensamentos; é o número que traz o maior potencial de realizações, com uma energia muito intensa de concretizações de objetivos (principalmente ao que diz respeito ao campo material), mas, em troca, nos exige paciência e persistência (aqui poderemos nos beneficiar da influencia de Marte para a busca dos objetivos). No amor, o número 8 nos convida a viver/resolver amores do passado; 2015 promete ser um ano de muitos encontros e reencontros, enquanto 2014 foi um ano em que as relações estavam mais frágeis e rápidas, 2015 promete um ano com laços mais fortes, intensos e duradouros.
Deixei para o final a “cereja do bolo”: o Tarot! O próximo ano será regido pelo Arcano VIII – A Justiça, o que nos traz uma energia busca de equilíbrio e de julgamentos, o que será muito útil para 2015. Este Arcano nos influenciará a resolver nossas “pendências” em todos os campos. Suas palavras de ordem são cautela, equilíbrio, reavaliar.
Este Arcano  nos diz que para vencer em 2015 devemos ser mais imparciais em nossos julgamentos, combater com maior veemência nossos impulsos e agressividades (que estarão em maior evidencia).
Este arcano sugere muita ponderação e reavaliação. É um momento de extrema cautela para as atitudes, há que se reorganizar e ter muita atenção com a conduta pessoal; também indica um instante de austeridade na vida, fim de ilusões, processos cíclicos, mudanças e, principalmente, uma ordem moral e social. Este arcano não nega nenhuma realização: estaremos favorecidos para comprar, vender, casar... contudo, adverte para o conteúdo dos nossos projeto, dos nossos ideais, das nossas promessas, para que não sejamos levianos.
A cor regente para o próximo ano será o vermelho e a pedra o citrino.
Não podemos esquecer que quem de fato faz o "ano acontecer" somos nós, nossos pensamentos, nossos desejos e ações (a energia favorece - amplia ou limita o que vibramos), mas quem determina e direciona estas energias somos nós!

"Milagres acontecem quando a gente vai à luta" O Teatro Mágico




domingo, 9 de novembro de 2014

A MAGIA DE NOVEMBRO

NOVEMBRO


 Apesar de ser o décimo primeiro mês do atual calendário, Novembro ainda guarda o antigo nome – Novem, significando nove – em referencia à sua posição ao calendário romano original.
Na tradição celta o Sabbath de Sahmain, no primeiro dia deste mês, marcava o inicio de um novo ano, cujo o nome celta era La Shamhna. O nome anglo saxão era Blotmonath e o nórdico, Herbistmonath e Fogmoon. Os povos antigos chamavam o mês de Lua Escura, Lua da Névoa, Lua da Neve, Lua do Castor, Lua das Tempestades, Lua quando os Alces trocam os Chifres, Lua do Velório e Mês do Sacrifício.
No calendário sagrado druídico, Beth é a letra Ogham e o álamo a árvore sagrada. O lema do mês é “purifique-se e prepare-se para novos desafios e mudanças pessoais em sua vida”.
A pedra sagrada deste mês é o topázio e as divindades regentes são Bast, Cailleach, Ferônia, Gaia, Hécate, Holda, Ísis, Kali, Mawu, Nicnevin, Odin, Osíris, Skadi e Tiamat.
Independente do nome, este mês representava uma transição entre o velho e o novo, o tempo de término e de novos começos.
Inúmeras culturas antigas reverenciavam os espíritos dos ancestrais e as almas durante este mês. As celebrações celtas de Sahmain (Hemisfério Norte) proporcionavam o contato com os espíritos dos falecidos (alguma semelhança com a atual data de finados dos católicos?) e eram dedicadas a Cailleach, a anciã Senhora da Morte.
No Egito as celebrações de Isia lembravam a ressurreição do deus Osíris com encenações ritualísticas do combate entre as forças do bem e do mal e cerimonia do plantio após o recuo do Rio Nilo.
Ao contrario da atmosfera de tristeza e luto das comemorações cristas dos mortos, até hoje, no México, o “Dia de Las Muertes” é comemorada de forma alegre e divertida. Os túmulos são enfeitados com flores coloridas de papel, as famílias se reúnem para piqueniques no cemitério e comemoravam com as comidas e bebidas preferidas dos mortos. As crianças se divertiam com doces e brinquedos em forma de esqueletos e caveiras.
Na Grécia, no dia dezesseis, havia uma celebração muito importante para Hécate, a deusa da lua minguante, da noite, das encruzilhadas e do mundo dos mortos. Para reverencias a deusa e pedir sua proteção, eram deixadas nas encruzilhadas as “Ceias de Hécate”.
Nos países nórdicos, a deusa Hel, Holda ou Bertha era comemorada como a condutora das almas durante “A Caça Selvagem”. Na Escócia, acreditava-se que a deusa Nicnevin também “cavalgava” durante a festa de Samhain, junto com seus adeptos, atravessando o céu noturno.
Com o fim do ano se aproximando, reserve este mês para completar ou finalizar seus projetos e compromissos. Descarte tudo aquilo que não lhe serve mais, livre-se dos “pesos mortos” para abrir novos espaços e reflita sobre os ciclos da vida e da natureza. Reverencie os espíritos de seus ancestrais e familiares, aceite a partida deles sem tristeza e ore por sua evolução espiritual.

Correspondências:

· Espíritos da Natureza: fadas subterrâneas
· Ervas: verbena, betonia, borragem, cardo sangrado, flor de cactos, crisântemo
· Cores: cinza, verde-mar
· Essências: cedro, flor de cerejeira, jacinto, narciso, hortelã, limão
· Pedras: topázio, lápis-lazuli, jacinto
· Arvores: cipestre, amieiro
· Animais: unicórnio, escorpião, crocodilo, chacal, coruja, andorinha e ganso
· Deidades: Kali, Ísis Negra, Nicnevin, Hécate, Bast, Osíris, Sarasvati, Lakshmi, Skadi, Mawu
· Fluxo de Poder: transformação, fortalecimento da comunicação com a Deusa e o Deus.



Fontes: O Anuário da Grande Mãe
             O Livro Mágico da Lua

domingo, 26 de outubro de 2014

BELTANE

SABBATH DE BELTANE (31/10 - RODA SUL / 1/5 - RODA NORTE)


Também conhecido como Dia 1o de Maio, Dia da Cruz, Rudemas e Walpurgisnacht, o Sabbat Beltane é derivado do antigo Festival Druida do Fogo, que celebrava a união da Deusa ao seu consorte, o Deus, sendo também um festival de fertilidade. Na Religião Antiga, a palavra "fertilidade" significa o desejo de produzir mais nas fazendas e nos campos e não a atividade erótica por si só.    Beltane celebra também o retorno do sol (ou Deus Sol), e é um dos poucos festivais pagãos que sobreviveu da época pré-cristã até hoje e, em sua maior parte, na forma original. é baseado na Floralia, um antigo festival romano dedicado a Flora, a deusa sagrada das flores. Em tempos mais antigos, esse festival era dedicado a Plutão, o senhor romano do Submundo, correspondente do deus Hades da mitologia grega. O primeiro dia de maio era também aquele em que os antigos romanos queimavam olíbano e selo-de-salomão e penduravam guirlandas de flores diante de seus altares em honra aos espíritos guardiães que olhavam e protegiam suas famílias e suas casas.
No dia de Beltane o sol está astrologicamente no signo de Tauros, o Touro, que marca a "morte" do Inverno, o "nascimento" da Primavera e o começo da estação do plantio. Beltane inicia-se, acendendo-se, segundo a tradição, as fogueiras de Beltane ao nascer da lua na véspera de 1o de Maio para iluminar o caminho para o Verão. Realiza-se o ritual do Sabbath em honra à Deusa e ao Deus, seguido da celebração da Natureza, que consiste de banquetes, antigos jogos pagãos, leitura de poesias e canto de canções sagradas. São realizadas várias oferendas aos espíritos elementais, e os membros do Coven dançam de maneira muito alegre, no sentido destrógiro, em torno do Mastro (símbolo fálico da fertilidade). Eles também entrelaçam várias fitas coloridas e brilhantes para simbolizar a união do masculino com o feminino e para celebrar o grande poder fertilizador do Deus. A alegria e o divertimento costumam estender-se até as primeiras horas da manhã, e, ao amanhecer do dia 1o, o orvalho da manhã é coletado das flores e da grama para ser usado em poções místicas de boa sorte.
Os alimentos pagãos tradicionais do Sabbath Beltane são frutas vermelhas (como cerejas e morangos), saladas de ervas, ponche de vinho rosado ou tinto e bolos redondos de aveia ou cevada, conhecidos como bolos de Beltane. Na época dos antigos druidas, os bolos de Beltane eram divididos em porções iguais, retirados em lotes e consumidos como parte do rito do Sabbath. Antes da cerimômia, uma porção do bolo era escurecida com carvão, e o infeliz que a retirava era chamado de "bruxo de Beltane", e tornava-se a vítima sacrificial a ser atirada na fogueira ardente.
Nas Terras Altas da Escócia, os bolos de Beltane são usados para adivinhação, sendo atirados pedaços deles na fogueira como oferenda aos espíritos e deidades protetores. Na tradição celta, os dois maiores festivais de todos são Beltane e Samhaim: o início do verão e o início do inverno. Assim como para todos os povos pastores, para os celtas o ano tinha duas estações, não quatro. Isso se deve porque no norte da Europa as estações são bem mais divididas que no hemisfério sul, por exemplo.
A palavra Beltane se origina dos termos galeses tan (fogo) e Bel (nome do deus sol dos galeses). Juntas, as duas palavras significam "fogo de Bel", ou então, mais poeticamente, "fogo no céu", o que é uma expressão que expressa maravilhosamente bem o espírito deste sabbath.
Beltane para as pessoas comuns era um festival de sexualidade e fertilidade humanas isento de vergonha. O mastro adornado com flores e fitas era um símbolo fálico. Dançar ao seu redor, procurar nozes nos bosques e ficar acordado a noite inteira para ver o Sol nascer no primeiro de maio eram atividade inequívocas, razão pela qual os puritanos as suprimiram com tremendo horror piedoso. Para se ter uma idéia, em 1644 os mastros de Beltane foram proibidos, mas eles voltaram em 1661 com a Restauração. Nessa ocasião, um mastro de 41 metros foi erigido na Inglaterra.
As fogueiras de Beltane ardiam durante todos os dias de festa, simbolizando o sol.
Alguns costumes de Beltane
Estes são alguns costumes tradicionais deste sabbath. Todos os exemplos foram retirados de diversas fontes, algumas inclusive desconhecidas. Se você conhecer a autoria de alguns deles, entre em contato conosco.
* Entre os povos pagãos era costume pular a fogueira de Beltane para se livrar de doenças e energias negativas, assegurar bons partos e pedir as bênçãos dos deuses da fertilidade. Então cada família levava brasas desse fogo para a sua casa, pois dessa forma reacendiam essas chamas em casa representando uma bênção divina para o verão que viria em seguida.
* Uma antiga tradição requeria que o fogo doméstico deveria ser apagado da casa toda nesse dia, pois seria feita uma fogueira com as nove árvores sagradas (freixo, bétula, aveleira, carvalho, teixo, sorveiro, salgueiro, pinheiro e espinheiro), que seria acesa pelos druidas ao nascer da Lua, dando-se início à celebração do sabbath.
* Na Europa, era um costume de Beltane soltar o gado para passar entre as fogueiras e, dessa forma, abençoá-los.
* No Brasil, perto do dia de Santo Antônio há o costume de recolher um enorme tronco de árvore e conduzí-lo ao pé da serra do Araripe até a Igreja da cidade, por mãos de fortes caboclos. À passagem do séquito, as mulheres solteiras procuram tocar no tronco que passa, debaixo da crença segundo a qual caso consiga, cedo casará... É uma festa a que todo o Cariri comparece, pelo sabor de tradição que o espetáculo mostra. Trata-se de um rito essencialmente de Beltane.
* Outro costume relacionado a este sabbath era quando os jovens das vilas iam até as florestas à meia-noite de Beltane para colher flores. na volta, presenteavam seus parentes com as flores, então recebiam as melhores comidas e bebidas que seus parentes podiam lhes oferecer. Era um ato que trazia boa sorte para todos que moravam naquela casa, pois representava generosidade.
* Na Europa Antiga, as pessoas celebravam Beltane fazendo amor em meio aos bosques. Todas as crianças concebidas por meio dessas uniões eram consideradas "abençoadas". Essas uniões representavam a fertilidade não só dos humanos nessa época, mas de todos os seres vivos da Terra.
O mastro de Beltane é o símbolo mais tradicional de Beltane. Ele representa a fertilidade do período correspondente, com a união da Deusa (a Terra) e do Deus (o mastro).
É tradicionalmente utilizado em festivais coletivos e em áreas abertas, pois o mastro é grande, mas seu tamanho é variável. Ele é adornado com uma coroa de flores no pico e diversas fitas coloridas penduradas. Em determinado momento do ritual, cada pessoa pega uma fita e todos rodam em volta do mastro, de forma que no final da dança ele esteja todo "embrulhado". O sentido dessa prática é mentalizar nossos desejos, fazer pedidos e projetar nosso futuro, pois enquanto entrelaçamos as fitas tecemos a nossa vida.
Durante a celebração do sabbath, o mastro deverá ser erguido como parte da cerimônia. Em determinado momento do ritual, as mulheres cavam um buraco no solo, onde o mastro será fixado. Enquanto isso os homens dão voltas ao redor do círculo, enquanto todos entoam alegres canções de Beltane. As mulheres colocam o mastro no buraco e cortam os elásticos. Se você estiver fazendo o ritual sozinho, você pode colocá-lo em um vaso com terra ou mesmo segurar na mão, se ele for bem pequeno.
Nesse momento, cada um pega a sua fita e começa a dança em volta do mastro, enquanto a música continua. Quando o entrelaçamento chegar ao fim, todos ajudam a tirar o mastro do buraco na terra e circulam a área ritual cantando e dançando. Realizando o ritual sozinho, você pode entrelaçar as fitas da mesma maneira.
O mastro deve ser levado à fogueira ritual e colocado sobre as chamas. A cerimônia deve continuar com os participantes cantando e dançando em volta da fogueira de Beltane. Se você está celebrando solitariamente, coloque o mastro dentro do caldeirão em chamas e repita o mesmo procedimento do ritual coletivo: cante, dance etc.
As guirlandas simbolizam a Roda do Ano e todos os ciclos da vida. Em Beltane, elas são utilizadas como se fossem uma espécie de coroa enfeitadas, simbolizando a época.
O costume de se usar guirlandas em Beltane vem das antigas celebrações deste festival na Europa, quando o melhor dançarino era homenageado com uma coroa feita de folhas e a virgem mais bonita era coroada com uma coroa de flores. Esta é uma maneira de representar o Deus e celebrar a Deusa.

Atualmente, as bruxas dão continuidade a essa tradição usando guirlandas em seus rituais de Beltane, mesmo que celebrem sozinhas. Para os homens as guirlandas são de folhas e para as mulheres as guirlandas são de flores coloridas.

domingo, 5 de outubro de 2014

A “Mitologia distorcida e falsificada” trazida pelo patriarcado




A deusa canaãnita era Belit Ilani, chamada de “estrela vespertina do desejo” ou “amante dos deuses”, equiparada com as deusas sumérias Astarte, Ninlil e Ninhursag ou que aparecia amamentando uma criança enquanto a abençoava com a mão direita. Posteriormente os sacerdotes do deus Marduk passaram a denominar as antigas deusas como esposas dos novos deuses: a deusa Belit foi renomeada Zarbanit e considerada apenas a esposa do deus Marduk e o casal divino assumiu os antigos títulos de Bel e Beltu, “o Senhor e a Senhora” substituindo os deuses Ninlil e Enlil da Babilônia, os regentes da terra.
Ashtoreth era a principal divindade dos semitas matrifocais, “Matriarca das tribos, Mãe da fertilidade e do amor, Condutora nos tempos de paz ou guerra”.
No Velho Testamento usado no sul do Canaã, onde a maior parte de hebreus tinha se estabelecido, o nome de Ashtoreth era sempre usado junto ao de Baal. Ao longo do tempo, os sacerdotes hebreus passaram a chamar a divindade de Ele em lugar de Ela e
desconsideraram a existência da Deusa, causando o que o mitólogo Joseph Campbell denominou de “mitologia distorcida e falsificada”. Vários mitos originais foram recontados de forma tendenciosa e a Bíblia passou a ser censurada pelos sacerdotes, que tinham o poder de decidir sobre o que podia ou não ser incorporado na história dos patriarcas de Israel. Muitos relatos bíblicos foram baseados em eventos históricos confirmados pelas escavações arqueológicas, documentos e artefatos canaanitas, mas as histórias sobre a religião pagã de Canaã foram contadas da maneira mais vantajosa e aceitável pela teologia hebraica. Várias confusões e distorções predominaram acerca da identidade e gênero da Deusa, fosse ela Ashtoreth ou Asherah. No entanto, o simbolismo, a reverência e os costumes da antiga religião da Deusa continuaram até 630 a.C., apesar da sua proibição.
As escavações feitas no Sinai na década de 70 revelaram um altar com inúmeras inscrições e desenhos nas paredes e nos pithoi (os enormes vasos de argila usados para guardar comida e bebidas). Uma das figuras é de uma mulher sentada no trono e servida por seres meio-animais-meio humanos. Também se encontra a figura de uma vaca amamentando um bezerro e uma procissão lhe trazendo presentes. Na inscrição pode ser lida a frase: “Seja abençoado por Asherah e Jahweh”. Asherah era a Mãe divina, uma das mais poderosas e por muito tempo cultuada em Canaã, enquanto a vaca é um símbolo universal das deusas mães;
Jahweh ou Jeová é o deus do Velho Testamento, herdeiro de Baal.
Asherah era chamada de “Senhora do mar” ou “Senhora da luz e da chuva”, mãe dos setenta deuses, uma Deusa-mãe por excelência, que nutria deuses e seres humanos e oferecia orientação através das suas sacerdotisas oraculares. Ela era cultuada sob a forma de
uma árvore ou um pilar de madeira (também chamado asherah, plural asherim) encontrado nos altares dos templos, nas colinas ou nos bosques sob as árvores frondosas, onde eram comemorados os rituais da lua cheia e os ritos sexuais. Eles representavam os símbolos da deusa Asherah, que era venerada como a “Árvore da
vida” ou o corpo da “Deusa da terra”. Eram estes lugares e objetos sagrados que os profetas de Israel se empenharam em destruir, mas sem conseguir totalmente, pois são encontradas várias citações na Bíblia sobre as “recaídas” frequentes dos hebreus nas suas antigas práticas e cultos. De forma velada ou escondida, os hebreus continuavam a cultuar a Deusa com os asherim, os ídolos esculpidos em madeira e as oferendas sob as árvores. Alegando que a destruição dos vestígios pagãos tinha sido ordenada pelo Jeová, os sacerdotes quebravam os pilares, derrubavam templos, incendiavam os asherim e proibiam qualquer prática pagã, os transgressores sendo condenados “ao fogo do inferno”.
A “Senhora Asherah do mar” era conhecida também como Atargatis ou Derketo e um dos seus símbolos era o peixe; às vezes ela era representada com rabo de peixe. Descrita como outro aspecto de Asherah, o culto de Attargatis persistiu até 200 d.C. sendo chamada de “Senhora da vida”. Ela era força da vida, benevolente e nutridora, que trazia a fertilidade pela água, encontrada nas florestas, auxiliando as mulheres nos seus partos e
no plantio dos campos. O seu nome tinha origem no termo “correto” e os seus atributos incluíam a retidão moral, que ela exigia dos seus fieis e a postura ereta durante os rituais, representando o poder das árvores.
A sua representação não era humana, apenas um simples tronco de árvore, porém nos seus altares havia estatuetas femininas de argila ou inscrições com uma deusa cavalgando um leão e segurando serpentes nas mãos.



Texto Mirella Faur

sábado, 13 de setembro de 2014

O mito de Deméter e Perséfone

O mito de Deméter e Perséfone

Uma filha, jovem e muito amada, é raptada de perto da sua mãe por um poderoso governante, conhecido pelos seus atos malvados. A mãe desesperada sai à procura da filha e descobre que o rapto tinha resultado de um acordo entre o supremo chefe religioso e o raptor, sendo que o primeiro era o pai da jovem e o segundo, seu tio materno. Determinada a buscar justiça, com a revolta e a dor devastando sua vida, a mãe inicia um longo e eficiente protesto contra as autoridades, que resulta na volta da filha, traumatizada, mas viva e forte o suficiente para transmutar a sua dolorosa vivência, aceitar e cuidar do seu filho, concebido na escuridão da sua prisão.”


Este relato - de um fato comum no nosso cotidiano atual - descreve a trama mítica de uma antiga história grega, que deu origem a um complexo ritualístico pagão, iniciado no segundo milênio a.C. e praticado durante pelo menos 1500 anos, até mesmo
após o advento do cristianismo. A mãe descrita no drama era Deméter, a deusa dos grãos, cujas dádivas eram essenciais à sobrevivência humana; a filha era a donzela Kore, raptada por Hades, o Senhor do Mundo subterrâneo e que retornou como Perséfone, a “Rainha do Mundo dos Mortos”. O drama encenado e consagrado pelos “Mistérios Eleusínios” não representava apenas a
felicidade do reencontro e a recuperação de uma mãe e filha após um trauma, mas a visão transcendental da morte e do renascimento, simbolizada pela volta de Perséfone do mundo subterrâneo e sua transformação em Brimo, “Senhora dos Mistérios”, grávida de Brimos, o filho da luz concebido na escuridão.
Para os povos antigos este mito era a vívida e real dramatização do conflito e da oposição entre vida e morte e sua conciliação final pela aceitação e transcendência. A Morte aparece como o raptor e violentador da vida, que irrompe de repente das profundezas do mundo escuro e desconhecido, arrancando e levando consigo não apenas velhos e doentes, mas também ceifando vidas jovens e promissoras. A dor e o desespero humano perante as perdas, são retratadas no luto e na revolta da Mãe Divina, que segue um caminho longo, difícil e tortuoso, saindo da raiva, do ódio e desespero para confronto, luta e a busca de uma solução, culminando com a aceitação e a transmutação das forças do caos e da morte pela iniciação nos Seus Mistérios. O mito das deusas Deméter e Perséfone, que deu origem aos Mistérios Eleusínios - celebrados por todos aqueles que falavam grego e não tinham cometido nenhum crime - preencheu uma universal e eterna necessidade humana: ultrapassar o terror perante a morte e nutrir a
esperança no renascimento. A importância simbólica dos Mistérios foi resumida pelo poeta Homero nesta frase:”Feliz é aquele que dentre todos os homens vivenciou os Mistérios. Aqueles que não foram iniciados, nem deles participaram, não irão usufruir da mesma sorte quando vão morrer e mergulhar na tenebrosa escuridão”. O poder sagrado dos Mistérios era tanto, que os antigos gregos acreditavam que, sem a sua celebração anual, a vida iria se tornar insuportável e não apenas a Grécia, mas toda a humanidade iria sucumbir.
No início do mito, Kore , alegre e despreocupada estava colhendo flores, quando ficou atraída por uma estranha flor (o narciso), sem saber que ela era consagrada a Zeus e Hades. De repente, Hades apareceu em sua carruagem preta saindo das entranhas da terra e a pegou àforça, levando-a para seu reino, a fim de fazê-la sua consorte, sem buscar o consentimento dela ou da mãe. Ninguém ouviu os gritos de Kore além de Hécate, da sua gruta, e de Hélios, que tinha presenciado o rapto.
Deméter, desesperada e sem saber o que tinha acontecido com Kore, saiu do Olímpo e iniciou uma busca incessante por ela,
auxiliada por Hécate e perguntando a todos sobre seu paradeiro. Entristecida e furiosa por não achar sua amada filha, Deméter retirou suas dádivas e bênçãos da humanidade, o que levou à aridez da terra, à seca e à fome. Preocupado com a carestia dos humanos, que pararam de fazer seus sacrifícios e oferendas aos deuses, Zeus enviou Helios para convencer Deméter a parar de chorar e se lamentar, aceitar Hades por ser um poderoso e rico genro (além de ser seu irmão), permitir à filha se tornar mulher e não mais mantê-la dependente de si. Apesar desta intimação, Deméter não aceitou ser coagida, pelo contrario ficou enraivecida com a conivência de Zeus, pai de Kore, com o rapto, e continuou a
busca, mantendo-se firme na sua recusa de devolver a vida à terra. Disfarçada em uma mulher idosa e após uma longa peregrinação, Deméter foi parar na cidade de Elêusis, na corte real, onde após alguns contratempos revelou a sua condição divina, ensinou os segredos da agricultura e deu ao povo a dádiva dos grãos, aconselhando a construção de um templo em Sua homenagem, para que nele fossem celebrados os Seus Mistérios. Zeus acabou cedendo perante a dor de Deméter e as preces dos seres humanos e enviou Hermes para trazer Kore - agora transformada em Perséfone- de volta para a sua mãe; o encontro das duas deusas é o ponto alto do mito, chamado heuresis, assinalando o fim do sofrimento, o triunfo de Deméter em resgatar sua filha e a volta da abundância para a terra. Porém, antes dela partir, Hades deu-lhe (ou a obrigou) para comer algumas sementes de romã, considerada a “fruta dos mortos”, além de ser um símbolo da fertilidade, fato que selou a sua união e a obrigou a voltar anualmente para o mundo subterrâneo, lá passando um terço do ano como consorte de Hades e “Rainha dos Mortos”, os restantes dois terços acompanhando sua mãe no mundo superior, como deusas da vegetação.
O mito do rapto de Perséfone e do desespero de Deméter representa o esforço coletivo de uma antiga cultura para enfrentar, mitigar e transcender o medo e o dilema humanos ‘ perante a inexorabilidade da morte. Porém, ao mesmo tempo, ele descreve um evento histórico acontecido milhares de anos atrás, que ainda
repercute na nossa existência até hoje. O rapto de Kore e o afastamento forçado da sua Mãe Divina retratam a usurpação e assimilação das religiões centradas no culto à Deusa do Sul da Europa antiga, pelas forças patriarcais invasoras, vindo do Norte e Leste europeu, trazendo consigo o poder da espada e os cultos dos deuses guerreiros. Deméter e Kore pertenciam às milenares tradições nativas matrifocais europeias, enquanto Zeus e Hades faziam parte da hierarquia patriarcal posterior às conquistas.
Ao longo de alguns milênios a Nova Religião, com seus deuses dominantes e hierárquicos, se sobrepôs e depois assimilou mitos e símbolos da antiga tradição geocêntrica da Mãe Divina. Em vários mitos esta assimilação foi descrita e representada nas cenas de rapto, estupro, dominação e subordinação das deusas por deuses, que as transformaram em esposas ou amantes submissas ou filhas dóceis servindo aos seus propósitos. Desta maneira, o mito de Deméter e Perséfone pode ser interpretado como um drama descrevendo tensões e oposições históricas, religiosas, sociais e culturais, uma vívida demonstração dos conflitos de valores e conceitos entre o Masculino e o Feminino arquetípico.
O imaginário e a dinâmica deste mito podem ser interpretados por duas perspectivas opostas: pelo prisma da permanência milenar dos valores matriarcais ou como a escalada e o triunfo do patriarcado invasor, estabelecendo uma nova ordem religiosa e social. O ângulo depende dos conceitos, necessidades e compensações psicológicas de quem o interpreta, enfatizando alguns elementos e omitindo outros.
Na visão matriarcal – que é mais fidedigna ao significado original - a ênfase está no poder transformador do Feminino, o ponto central sendo a relação positiva entre mãe e filha e excluindo o elemento masculino, que aparece de forma violenta e usurpadora rompendo este elo. A Deusa prevalece neste drama, como Mãe que resgata a filha dos braços do invasor e do reino da morte; como Filha ela transforma o usurpador, absorvendo na sua matriz o elemento masculino, gestando, transformando sua energia e dando à luz o filho, com uma nova forma de ser e agir. Neste processo, a transformação de Kore em Perséfone e a presença de Hécate ao lado de Deméter, confirmam a supremacia das faces integradas da Deusa Tríplice como filha, mãe e anciã.

Na visão patriarcal o tema central é a ascensão do poder masculino, que se apropria de elementos e atributos da Deusa e rompe para sempre os elos matrifocais. Deméter é vista como uma figura negativa, neurótica e possessiva, enquanto Hades é o libertador da filha ingênua de uma dependência materna limitante, despertando-a sexualmente (o rapto visto como uma ”iniciação“), tornando-a consorte e rainha e abrindo novos horizontes para a sua atuação. Assim que a deusa se torna mãe do filho do conquistador, termina a supremacia da Mãe e Filha e é preparado o caminho para o nascimento da Nova Religião, em que se honra por algum tempo a dupla divina Mãe e Filho, substituídos depois pelo domínio do Pai e Filho.
Este enfoque explica o predomínio dos comentários e das teorias patriarcais modernos - históricos e psicológicos -, que muitas vezes distorcem ou omitem aspectos do mito original, para validar valores e conceitos que fortalecem as estruturas patriarcais.
O nosso mundo atual enfrenta tanto o medo da morte - no sentido literário ou psicológico – quanto as manifestações nefastas e destrutivas do poder patriarcal. A riqueza mítica e a relevância no nível psicológico e comportamental não se limitam apenas aos períodos ou culturas que lhes deram origem. Assim como Jung demonstrou nas suas obras, os antigos padrões míticos, os temas e os dramas, bem como os símbolos arquivados no inconsciente coletivo aparecem e se manifestam nos sonhos, fantasias, criações artísticas, histórias das vidas e dos relacionamentos humanos contemporâneos. Mesmo que a sua origem e significados sejam ocultos ou enigmáticos para a nossa compreensão, eles podem ter um grande impacto emocional sobre nós. Este impacto é a marca sutil de um arquétipo, que atua no nosso campo astral e emocional, influenciando nosso comportamento e forma de agir ou reagir, mesmo que a nossa razão ou conhecimento intelectual não alcancem seu significado. Cada imagem ou padrão arquetípico pode se manifestar de forma sutil (nos sonhos ou emoções) ou no nível racional (na dinâmica dos relacionamentos pessoais ou coletivos). Esta manifestação dualística é importante ao estudar o mito de Deméter e Perséfone, vendo a manifestação dos personagens envolvidos (Deméter, Kore, Perséfone, Hades) como sendo aspectos, personas ou sombras de uma mesma mulher; ou
interpretar o drama no contexto de uma relação entre duas mulheres (mãe e filha, irmãs, parentes, amigas, parceiras, terapeuta e cliente, mestra e discípula).
No entanto, devemos levar em consideração a visão que os povos antigos tinham sobre os mitos, que eles viam como representações de uma realidade espiritual, compatível com as suas crenças e práticas religiosas, os deuses sendo figuras multifacetadas da dimensão espiritual. A deusa Deméter não era apenas uma simples mãe (de uma filha e dos grãos), mas uma deusa tríplice, contendo os aspectos de Chloe (a donzela da primavera) e de Cthonia (a anciã do mundo subterrâneo), todos associados ao ciclo da vida vegetativa. Os seus ensinamentos eram os dons que a própria Natureza dava aos homens: como plantar, colher, seguir os ciclos naturais e das estações. A vida física não era oposta ao espírito, as vicissitudes do corpo e da idade respeitadas como reflexos dos processos naturais. Aquilo que acontecia na Natureza também se passava na vida humana. O fim do ciclo de vida de uma planta era o paradigma da morte humana; a semente abrigada na terra escura germinava e brotava, podendo frutificar (assim como Perséfone se tornou mãe), depois definhava e apodrecia.
Mas ao se tornar composto, ela enriquecia e revitalizava o solo e desta morte fértil nasciam novas sementes, que germinavam,
floresciam e frutificavam, a vida contida no fruto sendo liberada na sua morte. Manifestava-se assim o poder da Anciã, que recicla, sem parar, a morte para reiniciar e continuar o permanente ciclo da vida.
         Ver-se como parte da Natureza, aceitar a dependência humana das Suas forças, participar no eterno ciclo de transformação da vida em morte e novamente em vida, proporcionava aos povos antigos a vibrante e prometedora visão do destino humano. Os mortos eram”plantados” na terra e chamados de “povo de Deméter”(Demeteroi), ou cremados para acelerar a transformação, suas cinzas sendo entregues também à terra, para que a sua decomposição e fertilização do solo proporcionasse o desabrochar de uma nova vida. Na Natureza tudo é reciclado e modificado, nada permanece estático ou fixo, a única constante sendo a mudança que é a assinatura da continuidade. Não existe um processo linear, nem um começo ou um fim, nem a eternidade da vida ou da morte, por isso a transformação era a essência e a base das crenças espirituais pagãs.
         Para compreendermos de fato a profundidade simbólica e a complexidade do mito grego de Deméter e Perséfone, devemos

perceber e aceitar a riqueza e fluidez dos conceitos míticos e a sua atuação na nossa vida, procurando nos sintonizar com os ciclos naturais, aceitando as oposições, mudanças, contrariedades, conflitos e paradoxos que são inerentes à natureza humana.
Texto: Mirella Faur

O mito de Perséfone e a origem da Primavera



Em um tempo muito antigo, era sempre Primavera. Deméter, a deusa da fecundidade dos campos, passava o ano todo a cobrir a terra de verduras, flores e frutos. Os campos eram sempre verdejantes e as flores nunca murchavam. Deméter tinha uma filha chamada Kore. A jovem costumava brincar com as outras ninfas nos campos floridos. Um dia, atraída pelo perfume do narciso, Kore afasta-se das companheiras e debruça- se para colher um botão que floria na borda de um penhasco. Nesse momento a terra se abre e surge da fenda o deus da morte e do mundo subterrâneo, Hades, que a carrega, apesar de seus gritos, em seu carro puxado por "imortais cavalos", para seu reino. Perséfone grita pedindo a Zeus que a salve, sem suspeitar que o rapto tinha sido tramado por ele mesmo e por Hades, seu irmão. Do fundo de sua gruta, Hécate, deusa da sombra e da tênue luz da lua, nada vê, mas ouve o grito de Kore.
Durante nove dias, Deméter procura por sua filha, em vão. Na aurora do décimo dia, Hécate vem a seu encontro e diz à deusa inconsolável que sabia que sua filha tinha sido raptada mas não sabia por quem. Juntas, vão perguntar ao Sol, o deus Hélio, que tudo vê no seu curso pelo céu. O deus resplandecente conta que Perséfone tinha sido dada por Zeus a Hades para ser sua esposa e rainha do reino dos mortos, e volta para as alturas no seu carro de luz, deixando imersa em escuro desespero a deusa Deméter.
No mundo subterrâneio, Kore recebe o nome de Perséfone.
Deméter abandona o Olimpo e vai para a cidade dos homens. Em toda a Terra, os campos secam e as plantas começam a murchar. As sementes não brotam mais. Zeus percebe que os homens estão perecendo pela fome e que, deste modo, não haverá mais oferendas e sacrifícios para os deuses. Os outros deuses vêm, então, suplicar à Deméter que volte ao Olimpo e cubra a Terra de fertilidade novamente. Mas ela declara que nenhuma semente brotará enquanto não lhe for devolvida Perséfone.
Finalmente, Zeus envia Hermes, o mensageiro, filho de Maia, ao Hades para pedir ao senhor dos mortos que concorde em ceder a esposa à sua mãe.
Hades dá seu consentimento; Kore, exultante, prepara-se para partir. Na despedida, o marido pede-lhe que coma com ele alguns gomos de romã. Depois de compartilharem a fruta, Perséfone salta no carro dourado de Hermes e, "puxados por cavalos de longas asas" atravessam os mares, os picos das montanhas, e chegam ao bosque perto do templo. Mãe e filha correm em direção uma a outra e abraçam-se numa alegria sem limites. Subitamente, Deméter suspeita de um embuste e pergunta à filha se tinha comido alguma coisa enquanto estava no mundo subterrâneo. Perséfone lembra-se de ter partilhado a romã com o marido, e sua mãe sabe então que só a terá de volta por dois terços do ano. Um terço a filha terá que passar com Hades no reino dos mortos. Por isso durante uma terça parte do ano tudo seca e morre na natureza. E todos os anos, quando Kore volta, tudo volta a brotar. Sua volta traz a primavera - sua mãe cobre a terra de flores.


domingo, 31 de agosto de 2014

SETEMBRO E SUA MAGIA

SETEMBRO E O CALENDÁRIO PAGÃO


No antigo calendário romano, Septem era o sétimo mês. Apesar da mudança do calendário e do acréscimo de outros meses, seu nome permaneceu o mesmo e Pomona, a deusa romana padroeira dos frutos e das árvores frutíferas, foi escolhida como sua regente.

        O nome irlandês deste mês era Mean Fomhair, o anglo-saxão Haligmonath e o nórdico Witumonath. Os povos nativos o chamavam de Lua do Vinho, Lua da Cantoria, Lua do Esturjão, Lua da Madeira, Lua quando o Gamo bate a pata no chão e Mês Sagrado , entre outros.

        No calendário sagrado druídico, a letra Ogham correspondente é Muin e a planta sagrada é a videira. Seu lema é “para tomar tomar as decisões certas e fazer as escolhas corretas, entre em contato com sua voz interior”.

        As pedras sagradas são a safira azul e a oliviana. As deusas regentes são Ariadne, Asase, Yaa, Deméter, Gauri, Medusa, Meditrina, Mami, Néftis, Perséfone, Racha, Themis, Tonantzin e Ostara.

        Este mês em, vários lugares no hemisfério norte, era celebrado o equinócio de outono, chamado pelos celtas de Sabbath de Mabon ou Alban Elfed. Aqui, no hemisfério sul, neste mês celebramos o Sabbath Ostara (no hemisfério norte), comemorando o renascimento da natureza e o desabrochar da vegetação, o crescimento e a renovação.

        A mais famosa cerimonia grega – os Grandes Mistérios  Eleusínos – homenageavam Démeter e Pérsefone. Cercados de profundo mistério e silencio, esses rituais eram reservados apenas aos iniciados e reencenavam os mistérios da morte e do renascimento. Outra importante festa grega era dedicada à deusa Themis, guardiã da ordem social e da consciência coletiva, protetora dos inocentes e executora dos que transgrediam a lei.

        No Egito, a cerimonia do “Acendimento dos Fogos” celebrava os deuses e as deusas, colocando-se lanternas e tochas em todos os altares e estátuas. Festejava-se, também, Thoth, o deus lunar com cabeça de íbis, senhor das palavras sagradas e das leis da magia.


        Na China, reverenciava-se a Lua durante o festival de Yue Ping, no qual as pessoas presenteavam os amigos com bolos em forma de meia lua ou lebre. Na Índia, a deusa Gauri era homenageada com doces feitos com mel, os quais eram depois comidos pelas pessoas para terem mais doçura em suas vidas.



        Também os incas celebravam a Lua na forma da deusa Mama Quilla, durante o ritual de purificação e agradecimento Citua, próximo ao equinócio.


        A entrada do sol no signo de Libra e as antigas celebrações do equinócio proporcionam, neste mês, oportunidades para buscar o equilíbrio entre luz e escuridão, razão e emoção, matéria e espirito. É um tempo propicio para organizar sua vida  e buscar soluções para seus problemas físicos, mentais, emocionais e espirituais.



CORRESPONDÊNCIAS:



·        ESPÍRITOS DA NATUREZA: grupos de fadas

·        ERVAS E FLORES: erva doce, centeio, trigo, valeriana, narciso, lírio, flores em geral

·        CORES: marrom, amarelo, verde, rosa

·        ESSÊNCIAS: gardênia, bergamota

·        PEDRAS:peridoto, olivina, crisólita, citrino, safira azul

·        ÁRVORES: avela, louro, videira

·        ANIMAIS:cobra, chacal, íbis, andorinha

DEIDADES: Deméter, Ísis, Perséfone, Néftis, Freya, Chang-O, Thoth, Ariadne, Asase, Yaa, Gauri, Medusa, Meditrina, Mami, Racha, Themis, Tonantzin e Ostara.




FONTES:  O LIVRO MÁGICO DA LUA

                O ANUÁRIO DA GRANDE MÃE