sábado, 13 de setembro de 2014

O mito de Perséfone e a origem da Primavera



Em um tempo muito antigo, era sempre Primavera. Deméter, a deusa da fecundidade dos campos, passava o ano todo a cobrir a terra de verduras, flores e frutos. Os campos eram sempre verdejantes e as flores nunca murchavam. Deméter tinha uma filha chamada Kore. A jovem costumava brincar com as outras ninfas nos campos floridos. Um dia, atraída pelo perfume do narciso, Kore afasta-se das companheiras e debruça- se para colher um botão que floria na borda de um penhasco. Nesse momento a terra se abre e surge da fenda o deus da morte e do mundo subterrâneo, Hades, que a carrega, apesar de seus gritos, em seu carro puxado por "imortais cavalos", para seu reino. Perséfone grita pedindo a Zeus que a salve, sem suspeitar que o rapto tinha sido tramado por ele mesmo e por Hades, seu irmão. Do fundo de sua gruta, Hécate, deusa da sombra e da tênue luz da lua, nada vê, mas ouve o grito de Kore.
Durante nove dias, Deméter procura por sua filha, em vão. Na aurora do décimo dia, Hécate vem a seu encontro e diz à deusa inconsolável que sabia que sua filha tinha sido raptada mas não sabia por quem. Juntas, vão perguntar ao Sol, o deus Hélio, que tudo vê no seu curso pelo céu. O deus resplandecente conta que Perséfone tinha sido dada por Zeus a Hades para ser sua esposa e rainha do reino dos mortos, e volta para as alturas no seu carro de luz, deixando imersa em escuro desespero a deusa Deméter.
No mundo subterrâneio, Kore recebe o nome de Perséfone.
Deméter abandona o Olimpo e vai para a cidade dos homens. Em toda a Terra, os campos secam e as plantas começam a murchar. As sementes não brotam mais. Zeus percebe que os homens estão perecendo pela fome e que, deste modo, não haverá mais oferendas e sacrifícios para os deuses. Os outros deuses vêm, então, suplicar à Deméter que volte ao Olimpo e cubra a Terra de fertilidade novamente. Mas ela declara que nenhuma semente brotará enquanto não lhe for devolvida Perséfone.
Finalmente, Zeus envia Hermes, o mensageiro, filho de Maia, ao Hades para pedir ao senhor dos mortos que concorde em ceder a esposa à sua mãe.
Hades dá seu consentimento; Kore, exultante, prepara-se para partir. Na despedida, o marido pede-lhe que coma com ele alguns gomos de romã. Depois de compartilharem a fruta, Perséfone salta no carro dourado de Hermes e, "puxados por cavalos de longas asas" atravessam os mares, os picos das montanhas, e chegam ao bosque perto do templo. Mãe e filha correm em direção uma a outra e abraçam-se numa alegria sem limites. Subitamente, Deméter suspeita de um embuste e pergunta à filha se tinha comido alguma coisa enquanto estava no mundo subterrâneo. Perséfone lembra-se de ter partilhado a romã com o marido, e sua mãe sabe então que só a terá de volta por dois terços do ano. Um terço a filha terá que passar com Hades no reino dos mortos. Por isso durante uma terça parte do ano tudo seca e morre na natureza. E todos os anos, quando Kore volta, tudo volta a brotar. Sua volta traz a primavera - sua mãe cobre a terra de flores.


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