Dakini, As
Dançarinas Celestes e Mestras da Sabedoria Feminina
No
Budismo Tibetano as Dakini aparecem como figuras misteriosas e complexas. Vistas
como emanações da mente iluminada, representam o princípio da sabedoria
manifestado em forma feminina e que beneficia todos os seres humanos. São representadas
de duas maneiras: luminosas, as mensageiras do Dharma e escuras, ou mundanas.
No
seu aspecto luminoso e benigno aparecem como seres sobrenaturais sutis e imortais,
celestes e etéreos, de natureza volátil, que existem desde sempre e que
orientam e testam a dedicação e cumprimento dos compromissos espirituais dos
iniciados. Suas imagens as mostram como mulheres lindas e nuas, segurando taças
de caveiras com sangue menstrual - o elixir da vida - e armas diversas (arcos,
flechas, adagas). Usam cabelos longos e soltos, guirlandas (malas) de caveiras
e se apoiam em bastões com forma de tridentes. Na mitologia ocidental são
equiparadas com anjos, elfos, fadas; nos mitos hindus foram associadas com as Apsaras,
as graciosas e voluptuosas ninfas e com as Gandharvas, as dançarinas celestes.
Para os praticantes budistas a Dakini simboliza os vários níveis da realização
espiritual individual: o reconhecimento da sacralidade do corpo (feminino e
masculino), o encontro profundo entre a mente e o corpo durante os estados meditativos,
o reino visionário das práticas ritualísticas e o espaço do silêncio contemplativo
e vazio mental. A mente de um lama ou guru é vista como sendo a sua Dakini, por
englobar o vazio e a sabedoria.
As
Dakini agem como protetoras da sabedoria atuando como um canal de comunicação sutil ou sendo a própria
fonte de graça e iluminação. Ao mesmo tempo, elas revelam – ou ocultam - comunicações
espirituais, profecias ou presságios, sendo valiosas colaboradoras na compreensão
e interpretação de textos sagrados, parceiras ou consortes nos planos sutis das
práticas tântricas. A Dakini iluminada ou Dharma Dakini da tradição tibetana
tem os poderes sobrenaturais e aspectos benéficos de uma Mãe divina, guia
espiritual dos budistas e que confere visões aos
praticantes de ioga e tantra, seus discípulos. Ela é a guardiã dos pontos de transição da vida,
transmissora da graça divina, musa da inspiração e mestra na expansão da consciência, mensageira
entre o céu e a terra, sendo honrada no vigésimo quinto dia do ciclo lunar. Portanto a Dakini
pode ser definida como a natureza sutil e misteriosa da mente em forma feminina, ventre
celeste, vazio criativo, espelho da serenidade mental, emanação arquetípica da essência do ser, que é
capaz de evoluir para uma oitava mais elevada expandindo sua compreensão para
além de conceitos e condicionamentos. Sua “morada” e refugio é o hemisfério
direito; seu contato é alcançado pela contemplação, silêncio mental e intuição.
A Dakini nos convida cortar as amarras, ilusões e limitações, dançar em êxtase com
a beleza da verdade divina e honrar a sabedoria feminina. A sua dança evoca o movimento
da energia no espaço e no céu, que tanto representa o potencial de todas as manifestações,
quanto a impermanência e o vazio de todos os fenômenos. Ela pode transformar energias
e emoções negativas em consciência de luz e testa o controle dos iniciados
sobre suas paixões, apegos e desejos.
Texto Mirella Faur
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