No limiar dos mundos,
no palácio Fensalir cercado por pântanos e escondido pela névoa, a deusa Frigga
fica sentada no seu trono de cristal e fia com seu fuso estelar os fios
multicoloridos do destino. Rainha Mãe das divindades Aesir, Frigga é a deusa
que conhece os desígnios de todos os seres, mas guarda silêncio, sem revelar o
futuro ou fazer profecias. Rainha Celeste e consorte do deus Odin, Frigga no entanto, passa
mais tempo no seu palácio, onde vive cercada por uma constelação de doze
acompanhantes, que personificam aspectos e atribuições divinos, cada uma tendo
funções variadas.
São
elas: Saga, a sábia contadora de histórias e detentora das memórias ancestrais;
Eir, a curadora hábil no uso de ervas e raízes; Fulla, guardiã dos mistérios,
riquezas e dons ocultos, confidente e conselheira das mulheres; Gna, a
mensageira que traz os pedidos humanos e espalha as bênçãos da Deusa; Syn,
guardiã dos limites, portais e de tudo que precisa ficar escondido ou fechado;
Hlin, defensora e protetora das mulheres injustiçadas ou perseguidas; Gefjon,
padroeira das mulheres solteiras e doadora da abundância como fruto do
trabalho; Sjofn, abre os corações para o amor e a afeição; Lofn abençoa as
uniões com permissão, proteção e paz; Var é a testemunha dos juramentos , que
pune os transgressores e zela pela integridade moral e espiritual; Vor guia a
intuição, aprofunda a compreensão e a expansão da consciência; Snotra ensina a conduta
certa, reforça os elos grupais e as qualidades de gentileza, honra e parceria.
Protetora
das mulheres, Frigga as conduz no aprendizado
dos Mistérios do Sangue e nos ritos de
passagem ao longo das suas vidas. Como Grande Tecelã, Ela fia a energia cósmica
e entrega os fios para as Nornes, as Senhoras do Destino, que são as responsáveis por tecer a intrincada
e complexa tessitura do destino universal.
Na cosmologia nórdica
existem dois conceitos representando o destino, chamados orlög e wyrd. Orlög
refere-se aos fatores que não podem ser mudados como: raça e país de origem, ancestralidade,
família, genética, potencial inato, perfil astrológico, ações e eventos
passados da trajetória individual, familiar e grupal e suas implicações na vida
presente. Orlög é a base do destino e do próprio mundo e está além do nosso alcance,
por ser imutável. Podemos imaginá-lo como uma urdidura (ou trama) de fios,
fixada no tear cósmico, através dos quais move-se a laçadeira que conduz os
fios móveis do wyrd.
Diferente do orlög, o
wyrd é mutável por ser constituído por nossas ações, atitudes e escolhas atuais,
porém cujas consequências irão se refletir no futuro. Podemos mudar a cor dos
fios do wyrd, a velocidade com qual se move a laçadeira e a padronagem da tessitura, porém jamais poderemos
alterar a trama básica do orlög, que reina absoluto na atuação das leis do
destino.
Tanto o orlög quanto
o wyrd formam a teia da nossa vida, tecida pelas Nornes, que ficam sentadas sob
as raízes de Yggdrasil, a Árvore do Mundo e monitoram
a vida dos deuses e dos seres humanos. Tudo está subordinado
às leis das Nornes, nem mesmo as divindades escapam das leis eternas e inexoráveis.
Frigga é a única deusa que compartilha da
sabedoria das Nornes, pois Ela percebe e compreende
a diversidade das modulações da tessitura cósmica, mas não revela este conhecimento.
Sem poder mudar o
orlög, Frigga, no entanto , pode tecer encantamentos de proteção para aqueles
que Ela ama e protege como as mulheres, em especial as gestantes e
parturientes, os recém nascidos e os casais que desejam ter filhos.
Frigga se apresenta como uma
mulher madura e majestosa, com os cabelos da cor das folhas de outono,
trançados e presos em forma de coroa com faiscantes pedras preciosas lapidadas como
estrelas. Suas vestes são simples, mas sempre usa um colar de âmbar e um cinto dourado
com várias chaves penduradas. Às vezes porta um manto de penas (de cisne ou
falcão) representando seu dom de metamorfose para sobrevoar os nove mundos do cosmos
nórdico.
Frigga detém o poder
sobre os elementos e os seus reinos, mas a sua atribuição principal é como
protetora do lar e da lareira, empenhando-se em criar e manter a harmonia e a
paz familiar e grupal. Por ser Ela mesma uma esposa
leal e mãe amorosa, cria laços afetivos - com os fios por Ela tecidos - entre
homens e mulheres, mães e filhos, deuses e humanos, conectando também os tempos,
com a lembrança do passado, a vivência plena no presente e a necessária
sabedoria e prudência no futuro.
A melhor maneira para
pedir ajuda para a deusa Frigga é sentir o desejo sincero de harmonizar e
apaziguar sua família e o seu lar. A energia do nosso ambiente doméstico
permeia todos os aspectos da nossa vida e nos afeta de forma sutil ou intensa.
Nosso lar deve ser nosso santuário, um oásis de tranquilidade e bem estar, onde podemos nos refugiar e refazer do
desgaste cotidiano, despindo nossas armaduras, descartando máscaras e abrindo
nossos corações para receber e dar amor.
Cada vez que
sentirmos energias negativas invadindo nosso lar e criando discórdias e desassossego,
podemos criar um pequeno ritual reunindo nossos familiares ao redor da mesa de jantar, acendendo uma vela no centro
cercada de frutas secas e frescas, sementes e flores. Após uma curta oração
para a Mãe Divina (arquétipo fácil de compreender e aceitar por todos) pediremos
que cada pessoa possa fazer uma avaliação em relação a um fato doloroso do passado,
dele se desligando e perdoando, comendo depois uma fruta seca e
agradecendo pela cura e transmutação. Logo após se agradecem as dádivas do
presente - incluindo a família e o lar - comendo uma fruta fresca. Em seguida faz-se uma invocação e um
pedido relacionado com um projeto futuro, mastigando devagar três sementes e
mentalizando sua realização. No final todos fazem um brinde com suco de maçã
agradecendo as futuras conquistas e de mãos dadas, cada um expressa seu compromisso
pessoal para contribuir à sua maneira na manutenção da harmonia
familiar. Quem quiser, poderá acender uma vela e caminhar ao redor da casa no
sentido horário, visualizando a luz divina clareando as
sombras e afastando a negatividade, interna e externa. A seguir as velas serão
colocadas perto da lareira ou do fogão e
deixadas para queimar até o fim. A mulher que invocou a ajuda da Deusa para sua
casa, permanecerá
algum tempo em introspecção e oração
visualizando as vibrações de harmonia, paz, alegria e proteção preenchendo seu
lar e agradecerá as bênçãos recebidas da amada Mãe Divina Frigga.
Texto Mirella Faur
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