- Mãe! Mãe! Mãe!
A menina branquinha como a neve, de longos cabelos negros como ébano e belos lábios vermelhos como sangue, chorava sem parar e chamava pela mãe.
- Mãe! Mãe!
A mãe veio. As mães sempre vem, não é mesmo? Pegou a pequena no colo e sorriu. Acariciou os cabelos lisos da criança e ninou-a até acalmá-la. Só então perguntou:
- Minha linda, o que houve? Por que você está chorando?
A criança voltou a choramingar, dizendo entre soluços:
- Mamãe, no bosque estão contando histórias sobre a senhora, sobre mim... Falam que você é uma madrasta malvada, que me maltrata, que tenta me matar, que é vaidosa e fútil.
- Mãe... eu nem sei o que é fútil...
A menina chora mais, a mãe sorri.
- Filha, ouve sua mãe... Não vale a pena chorar pelo que você ouve por aí. Sou sua mãe, você é a minha filha... O que essas pessoas sabem do nosso amor? Da nossa cumplicidade? Das noites na frente das fogueiras? Das danças na lua cheia? Dos bolinhos assando no forno? Das maçãs carameladas em dias de festa?
- Ah... filha... as pessoas vêem apenas o que querem ver, o que compreendem. Elas não me entendem, não percebem que para ser mãe, eu não preciso ser feia ou esquecer de mim. Que para ser esposa, eu não preciso deixar de ser mulher. Não percebem que para acalentar menina tão especial como você em meu seio, eu não preciso sentir inveja ou ciúmes, porque somos diferentes e complementares. Você é a jovem cheia de energia e sem nenhuma experiência. Eu sou a mulher cheia de experiência e com a energia controlada. Um dia serei a anciã, aquela que irá te acolher nos momentos difíceis, te acalentar quando a vida te desafiar, te aconselhar quando você se sentir perdida e te respeitar pela mulher que você é assim como você me respeitará pela senhora que eu serei. Eu terei rugas e amarei cada uma delas. Você terá filhos e eu amarei cada um deles. E enquanto eu tiver forças, irei dançar nas fogueiras com você.
A mãe suspirou.
- Mas você precisa compreender que enquanto essas pessoas tiverem língua, elas falarão, e falarão o que quiserem da forma como entenderem. Elas não podem me entender porque eu não me comporto como elas, e elas também não irão te entender porque você certamente se comportará diferente dos filhos delas... Então eu sempre serei a bruxa malvada. E quando você crescer, será a sua vez.
A mãe sorriu para a menina.
- Não tenta entender tudo agora. Apenas não dê ouvidos para essas fofocas, continue brincando, buscando os amigos que você puder ter e sendo feliz apesar dos outros. Quando falarem algo, apenas ria. O riso desarma as pessoas.
E completou:
- E lembra que eu te amo.
A menina tinha parado de chorar. Mesmo sendo muito inteligente, em seus sete anos de idade não tinha maturidade para entender muito do que a mãe tinha explicado, porém tinha se acalmado. E como toda criança, queria a liberdade do quintal, as brincadeiras. As tristezas não tinham força contra sua alegria.
Porém, antes de ir, resolveu fazer uma última pergunta:
- Mamãe... por que te chamam de madrasta nessas fofocas?
A mãe riu alto.
- Ah, Branca de Neve! Porque eles simplesmente não conseguem alcançar a grandiosidade do amor de uma bruxa!
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