BRIGHID, DEUSA E SANTA.
“Brigid, mulher
excelente, chama espontânea dourada e flamejante, brilho do sol radiante,
conduza-nos para o reino divino”.
Do hino irlandês Brigid be Bithmaith
Do hino irlandês Brigid be Bithmaith
Não há como duvidar do extenso culto – antigo e
atual – dedicado a Brigid. Ela é um arquétipo poderoso no mundo contemporâneo,
que ultrapassa barreiras religiosas ou filosóficas. Seu poder alcança tanto os
adeptos do neopaganismo (druidismo, Wicca, seguidores da Tradição da Deusa) que
a cultuam no Sabbat Imbolc como uma Deusa Tríplice, padroeira
das artes, cura e magia, bem como os cristãos, que a reconhecem como uma mulher
real, santificada e venerada, cujos milagres continuam a acontecer até hoje.
A deusa Brigid foi descrita em mitos, lendas,
biografias e histórias como uma mulher extraordinária, poderosa, amorosa e
enérgica, com traços contraditórios, mesclando fogo e água, determinação e
compaixão, cura e combate, virgindade e maternidade, centrada e dedicada na sua
missão de proteger e cuidar do seu povo. Para os seus seguidores pagãos, ela é
a Deusa Tríplice, padroeira da arte, cura e magia, Senhora do fogo sagrado e
das fontes curativas. Para os cristãos, ela é Santa Brigid, uma mulher simples,
mas que pela sua vida pura, sua fé e a doação irrestrita para auxiliar doentes
e pobres, pode vir a alcançar a santidade. Para os poetas e artistas, ela é a
Musa, que os inspira e conduz para a fonte da criatividade. Para os camponeses,
ela era a protetora dos rebanhos e da fertilidade da terra, regente da
prosperidade, associada às colheitas e ao gado.
A data exata do início do seu culto pagão é
desconhecida, acredita-se que foi há milênios, sendo uma das deusas mais
antigas, “contemporânea” com Inanna, Ishtar, Ísis, Hera, Gaia, Freyja. A
Irlanda pagã foi formada por uma amalgamação de povos indígenas, os
construtores dos monumentos neolíticos e as tribos celtas, que chegaram em
várias ondas migratórias entre o século VII a.C. e o primeiro d.C. Não se sabe
ao certo qual é a sua verdadeira origem, nem a antiguidade do seu culto. Porém,
independentemente das suas raízes históricas ou geográficas, seu culto
floresceu na Irlanda, Escócia e Bretanha e seu nome imortalizado em várias
fontes na França, Espanha, Suécia. Adaptado para a figura cristã da santa, este
culto persiste até hoje e centenas de lugares e pessoas na Irlanda guardam seu
nome e seus costumes.
A tradição oral celta preservou muitos mitos,
lendas e poemas, mas com o passar do tempo e as contínuas guerras, muito do
legado ancestral foi perdido. Suas lendas permaneceram ao longo de gerações,
transmitidas pelos bardos e poetas (filid) e, mesmo truncadas ou
distorcidas pelos monges e historiadores cristãos, preservaram fragmentos da
sua esquecida sabedoria e poder. Muitas das lendas da Santa são compilações dos
mitos da Deusa, mescladas com elementos cristãos, com o propósito de atrair os
pagãos celtas para o cristianismo. Referências escritas apareceram apenas
séculos depois da sua morte, reunindo histórias confusas sobre sua suposta
identidade, considerando-a ora como a parteira e madrinha de Jesus (que nasceu
séculos após) e invocada pelas parturientes, ora a própria Maria. A Deusa foi
transformada em Santa a fim de legitimar e promover a conversão para a nova
religião, um passo importante para estabelecer a mudança de costumes. O antigo
templo de fogo de Kildare da deusa na Irlanda, destruído pelas guerras e os
saques, foi recuperado e transformado em catedral da santa. A sua chama
sagrada, depois de extinta pela perseguição reformista, foi acesa novamente e
continua sendo mantida até hoje pelas freiras da ordem Brigidina.
Os inúmeros nomes da deusa Brigid originaram-se nos
vários lugares do seu culto, assim como suas representações: Breo
Saighit, a “Flecha Ardente” celta (o nome que melhor representa o poder da
sua chama sagrada), a escocesa Bride, a irlandesa Brigid , Brighd ouBhrid,
a gaélica Brighid (pronuncia-se Breed),
a inglesa Brigantia, cultuada nas terras do Norte da
Inglaterra e parte da França e Espanha (o seu aspecto de Guerreira, com flecha
e cetro, mas também mediadora da paz), Brigandu na Gália, Bridget na
Suécia, Briid ou Brede na Ilha de Man, Ffraid no
País de Gales e Mary of the Gael nos poemas. Tão
diversos quanto os nomes são os seus títulos, que descrevem seus atributos: Brigid,
a Vitoriosa, Guerreira imortal, Rainha do Povo das Fadas, Mãe das canções e
poesias, Senhora das fontes, Chama do coração das mulheres, Fogo que arde sem
deixar cinzas, Mãe da sabedoria, A mais elevada, Deusa da cura com
manto verde e cabelos vermelhos.
Em algumas lendas Brigid aparece como filha dos
deuses arcaicos da terra Dagda e Danu (ou Boann),
fazendo parte do povo sagradoTuatha de Dannan. Em outros mitos é considerada
consorte de Dagda ou de Bres, o “Lindo Guerreiro”
(descendente dos Fomorians, a raça que regeu a Irlanda antes dos
Tuatha de Danaan), ou sendo “Senhora do mar”, filha do deus do
oceano Lir. Da sua união com Bres teria tido um filho - Ruadan-
que representava a mescla das energias dos seus genitores: Danaan e Fomorian.
Na maioria dos mitos prevalecem, no entanto, suas características de deusa
virgem, guardiã da tocha e da lareira, protetora das mulheres e dos caminhos,
sua energia sendo ígnea, direta, rápida, iluminadora e vitalizadora.
Brigid é o raio do relâmpago ou a chama do fogo que
ilumina a terra, deixando atrás um rastro de luz ou clareza nas mentes e
corações humanos. Às vezes é vista como a face jovem da Deusa, Danu ou Cerridwen sendo
a Mãe e Cailleach a Anciã, que cede seu lugar para Brigid no
Sabbat Imbolc, substituindo o frio do inverno pelas promessas da primavera,
trocando o cetro de gelo pelo ramo verde. O seu aspecto de regente das fontes
permaneceu no culto da deusa Sulis, adotada pelos romanos como Sulis
Minerva e cultuada nas antigas termas de Aquae Sulis,
atual cidade inglesa de Bath, onde a energia dela ainda pode ser percebida na
fonte subterrânea, repleta de oferendas dos visitantes.
Brigid foi equiparada a várias deusas: com Juno pela
tribo dos Brigantes, com Minerva, Hécate, Héstia, Vesta, Ártemis, Diana, Tanit
e Sulis pelos romanos. Existem semelhanças entre o mito de Brigid e os de
algumas deusas solares como Lucina, a padroeira romana da luz, a báltica Saule
e a nórdica Sunna. Algumas lendas celtas atribuem a Brigid uma dupla
apresentação: donzela e anciã, Brigid e Cailleach, primavera e inverno,
dualidade semelhante às gregas Perséfone e Deméter. Como uma Tuatha de
Danaan ela era ligada aos Sidhe, o “Povo das Fadas”, sendo
a sua rainha; ela usava como emblema um manto verde, um cinto mágico e uma
coroa de ouro. Foi ela quem implantou o keening, os lamentos
das vigílias irlandesas que pranteavam os mortos. Nas lendas arturianas, Brigid
é descrita como a Guardiã da macieira sagrada de Tir nan Gog, “a
terra das mulheres ou da juventude” e a maga artesã que forjou a espada Excalibur.
Ela era descrita como doadora da vida e parteira, poeta e artesã, curadora e
guerreira, fada e soberana, maga e profetisa, uma figura mítica e
multifacetada, que transita entre realidade e fantasia. O arquétipo complexo e
múltiplo de Brigid - a mais cultuada das deusas celtas – também amalgamou
vários aspectos das antigas deusas irlandesas como Boann, Danu, Macha,
Morrigan. Mas ela é uma divindade tão intensamente relacionada com a
sacralidade feminina, que a nenhum homem era permitido ultrapassar a cerca ao
redor do seu santuário.
Deusa soberana e provedora da terra, guardiã do
fogo celeste e telúrico, regente das fontes e ervas curativas, ficou mais
conhecida como uma “Deusa Tríplice”, regente das artes (poesia, canto,
artesanato, tecelagem, metalurgia, joalheria), da cura, fertilidade,
purificação e renovação pela água (pelas fontes e os mistérios das ervas), da
magia, oráculos e profecia. Como “Senhora do Fogo Tríplice” ela regia a
inspiração (sendo a Musa), a forja (padroeira da metalurgia e das artes
marciais), a tocha e a lareira (protetora das casas, das mulheres, famílias e
dos viajantes). Nas imagens, Brigid aparece como uma jovem com cabelos ruivos,
segurando uma chama, junto de seus animais totêmicos (vaca branca com orelhas
vermelhas, cisne, peixe, ovelha, javali ou serpente) ou perto de uma fonte.
Outra apresentação é como uma tríade de deusas, cada uma segurando o símbolo
dos seus dons (tocha ou chama, ferramentas, cálice cercado com serpentes
entrelaçadas ou ervas curativas).
Brigid era honrada como “Senhora dos Bardos”
pelos seus dons de inspiração, criatividade, encantamento, fluidez e graça.
Para os antigos celtas o fogo era a fonte da inspiração, a iluminação divina
procurada pelos poetas, bardos e magos. As suas criações – poemas, canções,
histórias, lendas - eram compartilhadas com os demais ao redor de fogueiras,
para assim lembrar e honrar os antigos caminhos, mantendo viva a memória da
tribo e a reverência dos ancestrais. No fim do inverno, a família ou o clã se
reunia próximo ao fogo ou à lareira (buscando o aconchego da chama de Brigid,
deusa mãe e protetora do lar), quando o músico, poeta ou o contador de
histórias reanimava as pessoas enfraquecidas pelo frio com canções, poemas,
relatos e sagas de heróis. Por serem faladas e não escritas, estas histórias
eram transitórias na sua natureza e assim como o fogo, não podiam ser dominadas
por aqueles que não tinham preparo; o uso das palavras exigia reverência e
competência, habilidades além do alcance dos não iniciados. Por isso Brigid foi
associada com as propriedades etéreas de todos os tipos de fogo (Imbas)
- da forja, da lareira e fogueira, do sol, da transmutação, da cura e do sopro
mágico. O fogo era visto pelos celtas como uma energia espiritual latente em
todas as coisas e inerente a certos processos cognitivos do intelecto humano,
bem como a alguns estados emocionais como paixão, caridade, amor, etc.
A inspiração e a poesia eram associadas pelos
celtas também com a água, outro domínio de Brigid, reverenciada como “Senhora
das fontes sagradas”, que uniam simbolicamente o mundo subterrâneo, mediano
e o superior, por nascerem na escuridão da terra, fluírem para a superfície e
refletirem a luz do céu. Da mesma forma, as ideias e visões ocultas do
subconsciente podiam ser reveladas pela inspiração e intuição, energias sutis
que fluíam livremente para a mente consciente e racional.
Uma composição de personagens dos mitos irlandeses
e galeses deu origem à Santa, cujo principal título era ”Brigid,
a santa do manto verde e cabelos de ouro (ou fogo)”, traços marcantes
das imagens da Deusa. Ela supostamente nasceu entre 439-452 e morreu entre
518-525 da nossa era, sendo filha de um druida e uma escrava pagã.
Seu nascimento foi cercado de fenômenos estranhos (a presença de dois sois no
céu) e aconteceu quando sua mãe passava pela soleira da casa, trazendo a ideia
dos limiares e fronteiras, considerados lugares sagrados para os celtas. Os que
presenciaram o nascimento deste bebê de mística beleza puderam relatar que da
sua cabeça surgiam chamas de cor vibrante, como se fosse uma coroa de raios
solares. Alguns dias depois, os vizinhos alarmados viram labaredas
saindo da casa em que os pais de Brigid moravam; mas chegando lá, encontraram a
menina dormindo tranquila no seu berço e sem nenhuma marca do fogo. Enquanto
criança, Brigid recusava qualquer tipo de comida além do leite de uma vaca
branca com orelhas vermelhas (cores atribuídas aos animais do “povo das
fadas”). Quando jovem ela era uma moça generosa, doando seus pertences e comida
aos pobres, sem se interessar em namorar ou casar, almejando apenas a vida
religiosa. Era amiga e seguidora dos ensinamentos de São Patrício (o
missionário que cristianizou Irlanda). Quando o seu pai permitiu que se
dedicasse à vida monástica, foi consagrada diretamente como abadessa em lugar
de ser ordenada como simples freira, devido a uma falha inexplicável do
oficiante, que recitou o juramento errado (sendo vista nesta hora uma coroa de
chamas cercando a cabeça de Brigid).
Brigid se empenhou em criar uma comunidade de
mulheres, junto com outras dezenove noviças em Cill Dara, “a igreja
de carvalho” (atual Kildare), na Irlanda, que foi crescendo até se transformar
em um grande mosteiro, o primeiro centro irlandês de estudos e artes, que
incluía trabalhos com metais e ilustração dos manuscritos antigos. Lá, as
mulheres dos arredores aprendiam como cuidar de pobres e doentes, auxiliar as gestantes
e parturientes, curar com ervas e a energia das mãos, fiar, tecer, bordar,
abençoar, fazer encantamentos e predições. A vida de Brigid foi repleta de
milagres como: a cura de doenças com o toque das suas mãos, a multiplicação da
comida (leite, manteiga, grãos, cerveja), o encontro de animais extraviados e a
descoberta dos ladrões; o mais famoso fato mágico foi quando pendurou seu manto
molhado sobre um raio de sol. Quando Brigid foi pedir mais terra para sua
comunidade ao rei, ele lhe concedeu uma área que o seu manto pudesse cobrir.
Brigid tirou seu manto e quando o estendeu, ele cobriu uma enorme área ao
redor, que lhe foi depois concedida pelo rei, impressionado com este milagre.
Como ferrenha defensora das mulheres, Brigid educava as jovens para seguirem
uma profissão, libertava escravas, incentivava esposas maltratadas para pedirem
divórcio, auxiliava nos partos ou abortos. Todos estes atos de poder
reproduziam os atributos da Deusa: fertilidade, abundância, cura, comunicação
com animais, auxílio permanente dado às mulheres e parturientes, aos pobres e
doentes.
Após a sua morte, o fogo do seu templo continuou
aceso, guardado cada dia por uma das dezenove sacerdotisas ou freiras da sua
ordem; na vigésima noite era a própria Brigid que o cuidava. O fogo requeria
muita lenha, porém as cinzas dele não aumentavam jamais. A preservação da chama
sagrada de Brigid foi mantida pelas freiras até que o seu culto foi proibido
mil anos depois. Ela foi enterrada num caixão de ouro e prata em Kildare, mas
depois, devido aos saques das incursões Vikings, seus ossos foram levados para
o túmulo do Santo Patrício, porém despareceram algum tempo depois. Algumas das
suas relíquias ainda existem em igrejas e museus como seu manto verde na
Bélgica, seus sapatos no museu de Dublin e outros objetos em lugares mais
distantes, que a santa viva jamais percorreu. Santa Brigid é padroeira da
Irlanda (junto com São Patrício), das ordens das freiras irlandesas e de Nova
Zelândia. Mesmo como santa, ela continua sendo - assim como a deusa - protetora
dos agricultores, fazendeiros e criadores de gado, ferreiros, curandeiras e
parteiras, crianças e mulheres, poetas, artistas e escritores (que começavam
seus escritos com a frase gaélica Adjuva Brigitta, “ajude Brigid”).
A sua representação como Santa tem elementos reais
e míticos, alguns historiadores negam a sua real existência, mas foi através
dela que a Igreja cristã celta permitiu a perpetuação - de maneira velada e
modificada–do culto da deusa Brigid, que, por não poder ser erradicado, foi
readaptado pela igreja e transformado para a reverência atual da Santa. Na
Irlanda, 1500 anos depois da morte de Brigid, sua memória permanece viva nos
corações dos seus fiéis e seus símbolos continuam sendo confeccionados e
usados, mesmo que nem todos os que os confeccionam e usam conheçam seu
significado sagrado. Tendo feito a transição da condição de Deusa para Santa,
preservando o nome, os símbolos e costumes antigos, a figura de Brigid
representa uma ponte (bridge em inglês) entre paganismo e cristianismo,
continuando como guardiã da sacralidade feminina.
O Sabbat Imbolc da Roda do Ano
celta se originou de um antigo ritual de bênção da terra (honrada como ”o
ventre da deusa”), feito na chegada da primavera, antes do campo ser semeado,
para propiciar fertilidade e proteção. Grãos e espigas da colheita anterior
eram usados como oferendas nesta celebração e depois de abençoados com água de
uma fonte sagrada, eram misturados com as sementes destinadas ao próximo
plantio. Imagens de Brigid eram levadas em procissão para abençoar os campos e
atrair a fertilidade, costume preservado mesmo após a cristianização e
perpetuado até hoje pelos padres cristãos. Atualmente inúmeros peregrinos
buscam as bênçãos de Brigid nos seus lugares sagrados como: Kildare (onde ainda
existe sua antiga fonte, a catedral e uma nova igreja), Faughart (o lugar onde
ela nasceu e onde vários locais são a ela associados), ambos na Irlanda e as
Ilhas Hébridas (cujo nome é associado à Deusa). Glastonbury - na Inglaterra - é
um lugar sagrado muito ligado ao arquétipo de Brigid, a forma do seu relevo
topográfico parece um cisne (animal sagrado da Deusa), enquanto a pequena
colina de Bride’s Mount e a gravura da Deusa (ao lado da sua
vaca) sobre o portal da igreja na colina do Tor lembram a estadia da Santa
durante algum tempo na cidade. Na fonte sacra de Chalice Well sacerdotisas
do Goddess Temple realizam rituais e bênçãos no Sabbat
Imbolc. Existem inúmeras fontes (chamadas Tobar Brighde e Clootie
Wells) na Irlanda, Escócia, Grã-Bretanha, onde colares, rosários,
tranças de fitas, cruzes de palha e pedaços de roupas dos doentes amarrados nas
árvores ao redor, comprovam a continuidade do culto de Brigid, como Deusa e
Santa, até hoje.
A conexão com Brigid no Sabbat Imbolc pode
ser feita individualmente nas margens de um rio, cachoeira, córrego ou
simplesmente em casa perto de uma fonte usada na decoração; visualiza-se a
purificação pelo poder da água e pede-se à deusa a cura para algum problema
específico (seu ou de familiares). Antigamente, as mulheres abriam as portas e
janelas das casas pedindo para que Brigid entrasse e as abençoasse, o que pode
ser feito também agora. No final da meditação, após agradecer à Deusa pela
ajuda recebida, deve-se abençoar-se com água, riscando o símbolo sagrado de triskelion sobre
si mesma. Uma antiga tradição irlandesa recomenda deixar um pedaço de pano de
algodão (branco ou verde) perto da sua imagem no dia dedicado à celebração do Sabbat
Imbolc (primeiro de fevereiro) pedindo à deusa para impregnar o pano
com suas energias curadores. Guarda-se depois o pano envolvido em papel de seda
para usá-lo quando precisar, colocando-o sobre a parte doente do corpo.
Um símbolo tradicional de Brigid pode ser
confeccionado com palha seca ou espigas de trigo em forma de triskelion ou
cruz de Brigid (Cros Bhrid), cujos modelos e técnicas de trançar se
encontram na internet. Um antigo costume irlandês recomenda confeccionar uma
figura feminina de palha para representar a Bhrid Doll. Esta boneca,
feita tradicionalmente com as últimas espigas (de trigo ou aveia) colhidas, era
colocada perto da lareira na véspera de Imbolc, em uma cama de
palha ou lã de ovelhas, junto com um bastão enfeitado com fitas, tudo cercado
por velas acesas. Convidava-se assim a presença da Deusa para abençoar a casa e
seus moradores. Antigamente esta boneca era depois enterrada junto com as
sementes durante o plantio, mas atualmente, em Glastonbury, as mulheres que
reverenciam e celebram Brigid guardam as bonecas por elas confeccionadas (Bride
Doll) no Goddess Temple depois de abençoá-las na
fonte sagrada de Chalice Well. A fileira de Bride Doll mostra
as diversas representações da inspiração e sabedoria femininas.
Nos grupos e círculos de mulheres Brigid é invocada
para conferir criatividade, inspiração, poder mágico e a capacidade de
manifestar ideias no mundo material. Para honrá-la, ou pedir sua ajuda ou
proteção, usam-se velas laranja, que devem ficar acesas durante dezenove dias,
reservando em cada dia um tempo para orar e visualizar seu projeto, sendo então
abençoado por Brigid. Durante a meditação, podem aparecer visões e mensagens de
Brigid; no final deste período deve ser feita uma oferenda de gratidão para ela
(grãos, sementes, pão, mingau de aveia, mel, manteiga, leite, cerveja).
Os círculos de mulheres que seguem a Tradição da
Deusa costumam realizar seus rituais de dedicação e iniciação na senda da
sacralidade feminina em torno da data de Imbolc (conforme
descrito no livro Círculos sagrados para mulheres contemporâneas). Esta
data representa um tempo propício para o plantio de novas sementes: da
criatividade, dos novos projetos e realizações, de cura e renovação energética,
de atração ou mudanças nos relacionamentos e das bênçãos nos caminhos
espirituais. Podem ser abençoadas nesta data dezenas de velas para usar durante
o ano, preparados altares com a imagem da Deusa, uma vela de cera, um cálice ou
fonte com água, ervas aromáticas ou incenso, um pote com terra, símbolos (lua,
cruzes solares, triskelion, pentagrama), objetos associados com a
sua profissão, vocação e projetos futuros, oferendas de pão, grãos, leite,
manteiga, mel e cerveja. Invoca-se Brigid na sua qualidade de protetora com
esta simples oração, que pode ser repetida diariamente:
Brigid, deusa
vitoriosa da luz,
Cubra-me com teu manto sagrado,
Vigie-me sempre com teus olhos,
Proteja-me com teu cajado,
De manhã e até anoitecer,
Por onde eu andar ou estiver,
De dia ou de noite, que eu seja sempre protegida,
Honrada, acolhida e favorecida,
Brigid, Deusa poderosa e protetora,
Fique ao meu lado e seja a minha companheira,
Minha conselheira, guardiã e defensora!
Cubra-me com teu manto sagrado,
Vigie-me sempre com teus olhos,
Proteja-me com teu cajado,
De manhã e até anoitecer,
Por onde eu andar ou estiver,
De dia ou de noite, que eu seja sempre protegida,
Honrada, acolhida e favorecida,
Brigid, Deusa poderosa e protetora,
Fique ao meu lado e seja a minha companheira,
Minha conselheira, guardiã e defensora!
A Naoimh Bhrid Gui Orainn
(pronuncia-se A Nem Brid Gui Orin que significa “Santa Brigid ore por nós”!)
(pronuncia-se A Nem Brid Gui Orin que significa “Santa Brigid ore por nós”!)
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